Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Uma Igreja com rosto amazônico

artigoO artigo, organizado com base na experiência missionária do autor, aponta caminhos que podem ser divisados como promotores de uma Igreja com rosto amazônico. Considera o que a Igreja amazônica pode oferecer à Igreja Católica no mundo, bem como o que ela precisa ser: uma Igreja plenamente católica na Amazônia.

Introdução

Diante da secular fachada da Basílica Vaticana, a uma multidão embevecida de fiéis reunidos entre as colunatas que cercam a praça idealizada por Bernini, o papa Francisco deu a conhecer, de maneira espontânea e imprevista, ao final da missa da canonização dos mártires do Rio Grande do Norte, seu desejo de celebrar um sínodo pan-amazônico. Se não fossem as revelações posteriores, essa inusitada cena seria uma anamnese perfeita da atitude de outro papa que, numa ocasião similar, após oficiar a Eucaristia, fez um tão espontâneo e significativo anúncio ao mundo, definido como “flor espontânea de inesperada primavera” (João XXIII, 1963). Tal dístico – o Concílio Vaticano II – transformou-se no maior evento da Igreja no século XX e marcou decisivamente a fisionomia católica.

Salvaguardando as diferenças de contextos e proporções, pode-se alentar profundas esperanças em relação às “espontaneidades” daqueles que chegam ao sólio petrino. Quiçá se avizinhe uma lufada revigorante do Espírito Santo, capaz de marcar outra vez a tessitura eclesial, mormente aquela da região amazônica, aportando, como fez o Vaticano II com a modernidade, a Igreja de maneira mais cirúrgica no coração dos povos e das culturas amazônicas. Trata-se de, como sonha o papa Francisco, buscar e apresentar “novos caminhos para a evangelização daquela porção do povo de Deus, especialmente dos indígenas” – uma categoria que frequentemente é esquecida e não raro tem suas perspectivas de futuro defraudadas inclusive pela “crise da floresta amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta” (FRANCISCO, 2017).

Assim, instados pelos apelos do papa Francisco e inquietos pela busca de novos itinerários para a evangelização daquela singular parcela do povo de Deus, tentaremos, neste artigo, apontar caminhos (non nova, sed nove) para a ação pastoral e evangelizadora da Igreja neste admirável “continente amazônico”. Os argumentos que sustentarão o aceno desses caminhos brotaram, de um lado, da reflexão teológica eclesial atual à luz das exigências da ação evangelizadora na Amazônia e do papado de Francisco; de outro, da experiência prático-pastoral do autor deste texto, que, por cinco anos, atuou na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, a mais extensa e indígena do Brasil, atendendo a aldeias ribeirinhas e colaborando na formação de comunidades cristãs. O texto, nesse sentido, será eivado também por uma carga testemunhal e delineado segundo a perspectiva de uma posição geográfica restrita, não abrangendo, desse modo, em minúcias toda a capilaridade do universo pan-amazônico.

1. Uma Igreja com rosto amazônico

A alvissareira convocação da assembleia sinodal pelo papa Francisco despertou esperanças, promoveu alegrias. O tema eleito pelo pontífice para esse Sínodo provoca tácita explosão de ideias, propostas e sonhos. Trata-se de oportunidade rara de levar àquela seara eclesial propostas que incidam numa pastoral encarnada, com contornos claros e preocupações que tocam a carne real da Igreja amazônica. De fato, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral no universo (pan-)amazônico constituem um ideal simultaneamente audacioso e complexo; um projeto digno de visionários da estirpe do atual pontífice, secundado, certamente, por bispos que sentem diuturnamente as vicissitudes do labor evangelizador na desafiante realidade amazônida.

Nesse sentido, é possível, sem antecipar-se às discussões sinodais, tentar contemplar, com propostas objetivas e reais, as silhuetas de uma Igreja nitidamente amazônica. Trata-se, a nosso ver, entre teorias e experiências, de sonhar com uma Igreja capaz de exalar o bom odor de sua gente, além de, ao mesmo tempo, amalgamar as necessidades concretas de seu povo e ser espelho da vivacidade ritual das culturas autóctones.

1.1. Igreja amazônica: capaz de exalar o bom odor de sua gente, sua cultura e sua história

No processo de preparação para a assembleia a ser celebrada em outubro de 2019, a visita do papa Francisco ao Peru, mormente seu discurso a mais de 5 mil indígenas em Porto Maldonado, tornou-se evento inaugural dos trabalhos sinodais, como destacou um bispo da Amazônia (DAMIAN, 2018). Contíguo a esse encontro, naquele mesmo 19 de janeiro, um séquito de mais de 30 bispos, orientados pelo presidente da Rede Pan-Amazônica, cardeal Hummes, e pelo secretário sinodal, dom Lorenzo Baldisseri, debateu sobre a dinâmica de trabalhos da assembleia sinodal. Não mais que seis meses depois, despontou o sucinto texto preparatório, que deveria ser levado às comunidades para ulteriores debates, aportes e retificações, em vista de tornar-se um texto-base da reunião sinodal.

Elaborado por uma equipe de expertos constituídos em uma comissão pré-sinodal, o texto-base do Sínodo, entre outras coisas, atesta que “as reflexões do Sínodo especial superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta” (DP, “preâmbulo”). Esse mesmo argumento, seminalmente, já havia sido avalizado pelo papa Francisco quando da convocação do Sínodo (2017). Assim, antes de receber algo ou ser instruída por outrem, deve-se admitir que a Igreja amazônica pode oferecer muitíssimo de sua realidade à Igreja Católica no mundo; seria o exalar de um bom odor dos cristãos pan-amazônicos para a humanidade.

A Igreja pan-amazônica é, congenitamente, plural e superlativa. Sua pluralidade externa-se em suas expressões eclesiais, em sua população e em sua geografia. De fato, a bacia hidrográfica da Amazônia representa uma das maiores reservas de biodiversidade de água doce e possui mais de um terço das florestas primárias do planeta. São, segundo o documento preparatório, mais de 7,5 milhões de quilômetros quadrados, com nove países que fazem parte desse grande bioma que é a Amazônia (DP 1). A diversidade populacional é imensa. Desde ribeirinhos até citadinos, de aldeias voluntariamente isoladas a tribos profundamente ajustadas à tradição ocidental, são mais de 30 milhões de habitantes. Trata-se, como é dito por pesquisadores, de várias “Amazônias” alocadas numa única pátria grande chamada Amazônia. É um universo plural e grandioso que abriga imensa e diversa variedade de povos, línguas, culturas e raças.

Nesse cenário complexo, amplo e plural, mesmo não de modo homogêneo e totalmente ordenado, a Amazônia consegue conviver com a diversidade e a pluralidade cultural, religiosa e social. Assim, é forçoso admitir que esse aspecto é algo relevante para toda a Igreja. Deve, portanto, ser um dos bons aromas exalados, desde as cercanias das comunidades ribeirinhas ou aldeias indígenas, para a Igreja católica mundo afora. Contemplando a heterogeneidade da Igreja naquela porção particular do povo de Deus, cabe traçar caminhos para, na Igreja Católica, respeitar o diverso, o múltiplo e o plural e conviver com eles, evitando qualquer reducionismo ou unilateralidade de modelo eclesial e compreendendo que os acurados modelos eclesiológicos são modos, por vezes culturais, de viver uma mesma fé.

Outro aspecto típico da Igreja amazônica que pode ser apresentado à Igreja em toda orbi como bom odor daquela parcela do povo de Deus é a evangélica pobreza. A rigor, constata-se a olho nu que a região pan-amazônica é empobrecida. Um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que são drásticas as condições sociais, econômicas e ambientais nos países amazônicos. Cerca de metade da população desses países encontra-se abaixo da linha da pobreza. Associa-se a isso a mortalidade infantil, que na Amazônia é bem maior do que a média nacional dos países. Na Bolívia, ela está acima do verificado nas regiões mais pobres do mundo: são 73 casos por mil nascidos vivos. Há ainda a questão da desnutrição, que atinge um quarto da população infantil, sendo os indígenas os mais vulneráveis a esse problema. Ademais, pesquisas revelam que o analfabetismo na região está acima dos parâmetros internacionais, atingindo na Amazônia brasileira 11%, mais que o dobro em relação aos 5% definidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como critério de situação crítica. Em termos eclesiais, a Pan-Amazônia, proporcionalmente, é a que goza de menor quantidade de ordenados e consagrados a serviço das diversas comunidades, tem menos locais de culto e obras assistenciais mantidas pela Igreja. Percebe-se, portanto, da cultura à religiosidade, da economia à educação, o empobrecimento da região pan-amazônica.

Não obstante a pobreza estrutural, fruto de opções políticas injustas, outro tipo de pobreza pode ser percebido, aquela que é evangelicamente vivida. A Igreja pan-amazônica, excetuando algumas poucas realidades, é simples, pobre. Nas feições do povo ou na organização das igrejas, percebe-se a leveza e a simplicidade das primeiras comunidades cristãs. No estilo, em geral, despojado de seus pastores, percebe-se uma legião de novos signatários do pacto das catacumbas, filhos da tradição latino-americana semeada desde Medellín, desprovidos de títulos e insígnias de ostentação, paladinos de uma Igreja pobre e para os pobres. No apoio às organizações de defesa dos direitos dos espoliados, dos indígenas e ribeirinhos, vê-se a certeza de uma Igreja que busca ser voz ao lado dos que têm pouca ou quase nenhuma voz. Assim, ciente, como sonha e ensina o papa, de que o serviço aos pobres deve ser o critério de autenticidade do evangelho (cf. EG 195), a Igreja na Amazônia tem um bom odor a exalar pelos seus poros para a Igreja Católica no mundo inteiro: o compromisso com os pobres, com uma Igreja pobre. Um compromisso congênito, próprio do seu jeito de ser Igreja.

Em cinco anos que vivi na Amazônia, fui surpreendido, porque aprendi mais que ensinei, ganhei mais que doei. Aquela Igreja local ofertou muito mais à minha visão da Igreja católica, universal. Aprendi, convivendo com outros religiosos, o doloroso preço a ser pago pela fidelidade evangélica a Deus nos pobres e sofredores. Acompanhei, não sem sofrimento, uma religiosa italiana da Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora ser subitamente retirada de sua função e enviada ao continente africano após ameaças de morte, por ter denunciado ao Ministério Público a exploração sexual de indígenas por um cartel de empresários da cidade. Aprendi, no atendimento diário de mais de 18 tribos sob minha responsabilidade pastoral, com línguas e histórias diferentes, a conviver com a singeleza e a diversidade de uma Igreja simples e plural, que merece atenção e respeito.

Em resumo, uma Igreja com rosto amazônico, antes de qualquer coisa, tem de oferecer à Igreja Católica no mundo aquilo que ela é, diríamos, ontologicamente. Assim, por sua própria peculiaridade, deve ensinar à Igreja universal a capacidade de conviver com a necessária pluralidade eclesial. De igual modo, a pobreza evangélica, vivida de forma radical na Amazônia, deve ser uma flâmula apresentada à Igreja universal como critério de autenticidade do seu anúncio do evangelho.

1.2. Igreja amazônica: atenta às necessidades concretas do povo e espelho da vivacidade ritual autóctone

Ainda delineando as feições de uma Igreja com rosto amazônico, sonha-se com uma comunidade encarnada, real e sintonizada com as alegrias e esperanças concretas do povo alocado na Pan-Amazônia. Trata-se de ideal ambicioso, pois essa região é infinitamente diversa, plural e múltipla. Esse fato dispensa, por um lado, qualquer projeto monolítico de identidade eclesial e, por outro, enseja a busca de elementos transversais que, adaptados às diversas situações locais, permitem construir uma identidade particular. Nesse sentido, apresentamos três elementos que podem ser catalisadores de uma Igreja com rosto amazônico, a saber: ministérios, defesa da natureza e incorporação de elementos culturais à realidade celebrativa.

Ministérios

Uma Igreja amazônica que se faça verdadeiramente encarnada na história e assuma o rosto do seu povo deve repensar o exercício dos ministérios naquela região e repropor novos modelos. A rigor, tem-se ciência de que, dos mais de 400 mil sacerdotes no mundo, uma das menores parcelas de ministros ordenados católicos está no continente americano: cerca de 30%, segundo dados do Anuário Pontifício. A título de exemplo, no Brasil há 27.416 presbíteros e 3.849 diáconos permanentes. Existe, ainda, irregular distribuição do clero no país. A maior parte está concentrada nas regiões Sul (25%) e Sudeste (45%), enquanto na região Norte, justamente onde está a parte brasileira da Pan-Amazônia, há apenas 3% do clero nacional. Esse fato implica uma parca assistência às comunidades e a privação de muitos fiéis do acesso à Eucaristia dominical.

A lamentável situação eclesial à qual os povos ribeirinhos e comunidades da Pan-Amazônia estão submetidos pela falta de clero exige, no Sínodo, uma resposta audaciosa. É momento de rever o modelo de ministro ordenado e esboçar um papel mais significativo da mulher na Igreja do Amazonas. Não se trata de oposição ao ministério ordenado celibatário, que é um dom e graça para a Igreja, como afirmou dom Erwin Kräutler (BALLOUSSIER, 2018), mas de repensar a privação eucarística que muitos vivem na Amazônia. Ao mesmo tempo, é necessário identificar o tipo de ministério que pode ser dado à mulher, levando em conta o papel central que desempenham nessa Igreja particular (DAMIAN, 2018). A Igreja amazônica, assim como toda a Igreja universal, não deve ficar refém de um modelo único de exercício do sacerdócio (a rigor, a Igreja é plural em formas de vida sacerdotal). Deve, desde a Amazônia e ouvindo o clamor do povo, abrir-se a outros modelos. Especial atenção merece a proposta de Fritz Lobinger, bispo emérito de Aliwal,África do Sul,de “equipes de anciãos”. Esses anciãos (homens e mulheres) não seriam clérigos, embora fossem sacramentalmente ordenados sacerdotes e serviriam a Eucaristia. A um padre animador celibatário caberia supervisionar (acompanhar) as várias equipes ministeriais. Com esse regime, talvez não se sanaria a questão ministerial, contudo se mitigaria a dificuldade de comunhão que muitos amazônidas enfrentam.

Ecologia

Outra senda de uma Igreja forjada com traços plenamente amazônicos é a inegociável defesa integral da natureza. A Igreja cresce à sombra da diversidade ecológica da Amazônia, respira e transpira a biodiversidade dessa região. Deve-se ter claro que a Pan-Amazônia, em todo seu conjunto, responde pela metade da biodiversidade mundial, goza da última floresta tropical, amalgama 15% da água doce no mundo e é a maior extensão florestal nos trópicos. A população que vive na região – da qual fazem parte muitos cristãos –, além de habitar o lugar, tem uma relação umbilical inextrincável com a terra, os rios, as matas e as florestas. A cosmovisão dos viventes autóctones é eivada por essa relação quase mística com o ambiente que povoam.

Essa relação espiritual, no entanto, é diuturnamente tomada de assalto, achacada e vilipendiada. Em toda a Pan-Amazônia há reiteradas investidas de grandes conglomerados industriais para explorar suas riquezas minerais e vegetais. Milhões de quilômetros da região amazônica estão cedidos à exploração de recursos minerais. Só na Amazônia, até 2020, prevê-se o funcionamento de mais de duas dezenas de usinas hidrelétricas, às expensas do alagamento de áreas que deveriam ser protegidas e do remanejamento de famílias que, bem mais que terem uma terra, se sentem parte da terra que habitam. Soma-se a isso o desmatamento das florestas, que, somente na Amazônia Legal brasileira, segundo o Imazon, chegou a mais de 4 mil quilômetros no último ano. Não raro esse processo tem o assentimento dos próprios habitantes locais, que, cooptados por industriais e sob o engodo do discurso de bem-estar social, acampam as ideias subjacentes à prática exploratória e as promovem entre seus pares. Em face de tão complexo cenário, colocar-se sobre o pálio de defesa da biodiversidade é questão premente para a sociedade civil, e mais ainda para a Igreja.

Essa defesa da biodiversidade insere-se na clarividente certeza descrita pelo papa Francisco como ecologia integral (cf. LS 137). Ela repousa na plena convicção da inter-relação entre todos os organismos vivos, considerando o mundo todo como uma casa comum. Essa concepção concorre para a ideia de que a crise ambiental não é distinta da crise social (cf. LS 137) e que somente uma visão holística da realidade possibilitará a resolução de tão complexa situação. Nesse espírito, ante a crescente devastação da Pan-Amazônia, a crítica ao modelo de desenvolvimento antropocentrista e capitalista aplicado à Amazônia deve ser protagonizada pela Igreja. Esta deve inserir, no micronível, em seus planos catequéticos, uma crítica a esse sistema de desenvolvimento, que oprime e mata. De igual modo, na formação do clero local, deveria incutir, via ementa de cursos de formação sacerdotal, uma sadia teologia da criação, que torne aguda a compreensão da inter-relação entre os sistemas naturais e sociais, dos quais o próprio ser humano é parte, e explicite que a destruição dessa inter-relação implica também a do ser humano. Ainda nessa perspectiva, a Igreja deve colocar-se em linha de frente para interpor objeções a acordos que primam apenas pela lucratividade, sem levar em consideração o bem-estar das populações frágeis que vivem à sombra e/ou às margens da região amazônica. Por fim, que a defesa da ecologia integral seja uma bandeira institucionalizada da Igreja universal e das Igrejas particulares da Amazônia, para que não seja refém de primaveras ou invernos eclesiais, mas permaneça uma prática contínua da Igreja.

Ritualidade e liturgia

No espírito do olhar poético de Guimarães Rosa, uma terceira margem à qual a Igreja amazônica deve singrar, a fim de plasmar sua própria imagem, é o universo da ritualidade. Não sem razão, mirando a Pan-Amazônia, pode-se parafrasear o pensamento cartesiano e dizer que ritus, ergo sum (no rito, existo). Os povos autóctones, em geral, são afeitos a celebrações rituais. São ritos que as comunidades nativas preservam de maneira sistemática e explícita, vivenciando-os e transmitindo-os às gerações mais novas. Comuns entre muitas tribos, em diversas aldeias e comunidades, são os ritos que secundam a gravidez e o nascituro, que marcam a entrada na puberdade ou na vida adulta, que acompanham a passagem da vida para a morte. São ritos que se traduzem em festas, em grandes comemorações religiosas e espirituais.

Em comunidades amazônidas mais moldadas pela mentalidade ocidentalizada, os ritos são vividos de maneira velada, talvez parcimoniosa. Nesses casos, bem mais que em cerimônias rituais, expressam-se no modo particular de entendimento do mundo e de relacionamento com ele. É uma cosmovisão peculiar. Constata-se que é uma percepção delineada pela atitude de sacralidade com relação à natureza, aos ancestrais e ao Criador. Essa condição ritual, a exemplo de todas as outras culturas, é algo superlativo na cultura amazônica. Trata-se de quesito do qual não se pode prescindir na tentativa de compreender tal universo, pois compõe, de maneira emblemática, o complexo mosaico dos povos da Pan-Amazônia.

Diante dessa constatação, parece irrefragável a necessidade de localizar a liturgia católica de rito latino – predominante na região amazônica – dentro dessa ritualidade e festividade intrínsecas ao universo amazônico. Não se nega que o rito latino seja ritual, mas deve-se admitir que ele advogue uma ritualidade que possa ser, à luz do “continente amazônico”, prenhe de tons afeitos ao gênio das culturas (cf. CELAM, Medellín, “liturgia”, n. 7b) e se expresse como coroa de compromisso com a realidade humana (cf. CELAM, Medellín, “liturgia”, n. 4). Assim, é um imperativo que o Sínodo possa abrir espaço, não de maneira excepcional, mas institucionalizada, para que cada vez mais, sobretudo no que diz respeito às línguas mais comuns, os livros litúrgicos sejam vertidos para o vernáculo. Certamente, com o motu proprio Magnum Principium, de Francisco, está sendo germinada essa ideia no que tange à tradução dos textos para as línguas usualmente faladas, contudo cabe insistir para que essa posição seja aplicada a todos os tomos litúrgicos que compõem os rituais católicos.

Ademais, cabe desvelar a necessidade de adaptações rituais à realidade de alguns atos litúrgicos. Não se trata apenas de concessões, mas de admissão de traços da cultura amazônica no universo celebrativo, de maneira institucional. Tais traços seriam apresentados em cantos, na apropriação justa de ritos, como os de apresentação de nascituros (benzimentos) ou de apresentação de dons (como o que ocorre no Dabucuri, cerimônia milenar que ocorre na região do alto rio Negro), ou na preparação do ambiente religioso. Deve-se, contudo, livrá-los de qualquer sincretismo, mas fundi-los no espírito da liturgia católica, que, a rigor, não prescinde da realidade concreta dos povos; antes, ao contrário, faz-se carne nelas (cf. EG 115; 167).

À guisa de exemplo, ao longo dos anos que vivi na região amazônica, percebi que alguns passos foram ensaiados. O bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, Edson Damian, entusiasta da cultura indígena, caminhando às apalpadelas, buscava sendas para esse feliz casamento entre a fé e a cultura. Em sua ordenação episcopal, com a mitra e o báculo, recebeu o cocar e o bastão indígenas, signos do poder e do serviço religioso. Esse gesto, excetuando a entrega da mitra, ele repetia quando ordenava padres autóctones. De igual modo, nos ritos iniciais da missa de posse do bispo, ao som do cariçu (instrumento musical ritual dos indígenas), foi feita uma ambientação do espaço, com defumação e preces em língua nativa. Igualmente, no processo catequético, há um esforço para aproximar a dinâmica própria do Reino de valores da cultura indígena, normalmente muito próximos. De modo particular, em celebrações com grande afluência de fiéis, eu favorecia o canto de músicas em línguas nativas, danças rituais e a proclamação de leituras no vernáculo local. Talvez seja o Sínodo momento oportuno de abertura para nova reforma litúrgica que, desta vez, atinja de maneira explícita o coração da realidade amazônica. Atualmente, o bispo da Diocese do Alto Rio Negro anda às voltas com uma tradução do rito da missa para uma das línguas presentes na sua diocese, a fim de que seja aprovada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Oxalá o Sínodo Pan-Amazônico impulsione esse projeto.

Conclusão

Ao fim desta reflexão, recorda-se que a evangelização no horizonte amazônico já goza de um lastro histórico de mais de 300 anos. Muito embora o Sínodo possa ser avançado e assertivo em suas intuições, deve-se reconhecer que suas proposições ainda percorrerão lento caminho até serem decantadas e se tornarem límpidas na Igreja amazônica. Desse modo, as sugestões acima expostas são elucubrações entre a teoria e a prática que precisam ser recepcionadas, acolhidas, avaliadas e redirecionadas até se tornarem suficientemente capazes de embeber a catolicidade da Igreja na cultura indígena. A rigor, em termos eclesiais e na perspectiva de uma sinodalidade profunda, julgo que a assembleia dos bispos deste ano deixará grande legado se, verdadeiramente, permitir aos bispos locais a liberdade para ousar traçar caminhos, construir novas trilhas. Nesse espírito, caberia aos prelados da Pan-Amazônia, com responsabilidade evangélica e devotado amor à Igreja, a missão de estabelecer, em suas realidades locais, aspectos ligados ao culto (liturgia), ao ministério (homens e mulheres) e à defesa da natureza, enquanto a Roma, como primeira entre iguais, competiria assentir e confirmar. Trata-se de ideal que beira à utopia; todavia, é ela que, como diria o poeta uruguaio Eduardo Galeano, serve de estímulo no horizonte para nos fazer caminhar.

Referências bibliográficas

AMAZÔNIA: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral: Documento Preparatório (DP) do Sínodo dos Bispos para a Assembleia Especial para a Região Pan-Amazônica. Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, Vaticano, 8 jun. 2018. Disponível em: <http://press.vatican.va/content/

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BALLOUSSIER. Anna Virginia. Padres mais velhos puxam aumento de clérigos no país. Folha de S. Paulo, São Paulo, 7 maio 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/05/padres-mais-velhos-puxam-aumento-de-clerigos-no-pais.shtml>. Acesso em: 20 ago. 2018.

CONFERÊNCIA EPISCOPAL LATINO-AMERICANA (CELAM). Documentos do Celam: Rio de Janeiro, Medellín, Puebla, Santo Domingo. São Paulo: Paulus, 2004.

DAMIAN, Edson Tasquetto. Una Chiesa dal volto amazzonico. Settimana News, Bologna, 3 Iuglio 2018. Disponível em: <http://www.settimananews.it/chiesa/chiesa-dal-volto-amazzonico/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

FONSECA, A. et al. Boletim do desmatamento da Amazônia Legal (dezembro de 2017). Belém: Imazon, 2017.

FRANCISCO. Ângelus. Vaticano, 15 out. 2017. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2017/documents/papa-francesco_angelus_20171015.html>. Acesso em: 9 ago. 2018.

LOBINGER, Fritz. Padres para amanhã: proposta para comunidades sem eucaristia. São Paulo: Paulus, 2008.

Reuberson Ferreira
Reuberson Ferreira, msc, é religioso e padre da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração. Mestre em Teologia, trabalhou cinco anos no Amazonas, na Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM). Atualmente é pároco e reitor do Santuário Nacional de Nossa Senhora do Sagrado Coração em São Paulo (SP).


Bíblia: Alimento diário que forma discípulos e missionários

bibliaSetembro marca o início da primavera e o desabrochar das flores que acontece de forma natural, como o amor de Deus, é também o mês da Bíblia. E, para experimentar este amor, é preciso conhecer as palavras que Cristo nos deixou. E isso só é possível quando existe um aprofundamento na fé, por meio da Bíblia.

São Jerônimo foi um grande biblista (pessoa que estuda, a fundo, a Bíblia Sagrada) que, a pedido, do papa Dâmaso (366-384) preparou a tradução da Bíblia em latim, a partir do hebraico e do grego. Essa foi a tradução mais popular. E a Igreja celebra em 30 de setembro a memória do sacerdote que foi o responsável em escolher o mês para o estudo e a contemplação da Palavra de Deus.

O caminho para conhecer os ensinamentos e crescer de forma gradativa como cristãos, é buscar o envolvimento e a familiarização com a Bíblia por meio de sua leitura diária. A partir daí o hábito se torna prática de oração, meditação e contemplação. Assim, a caminhada fé é construída no amor, na luz e na esperança.

O mês da Bíblia em 2019

Em 2019, a Igreja celebra o Mês da Bíblia, em sintonia com a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dando continuidade ao ciclo do tema “Para que n’Ele nossos povos tenham vida”, sugerindo o estudo da Primeira Carta de João com destaque para o lema “Nós amamos porque Deus primeiro nos amou” (1Jo 4,19).

Na primeira carta João, chama atenção para a importância de vivenciar o amor de Deus, que chega para todas as criaturas e deve ser compartilhada entre todos os irmãos. “A carta de São João foi escrita no momento particular para a comunidade para revelar a fisionomia de Deus. Deus é amor e quem ama permanece em Deus”, esclarece Pe. Reuberson Rodrigues Ferreira MSC – atual pároco e reitor, do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

De acordo com Pe. Reuberson viver no amor e praticar a caridade é necessário nos tempos atuais. “A dimensão do amor é bem mais que uma pratica afetiva e sim uma pratica concreta da caridade, que busca a intercessão um pelo outro, se a gente quiser ficar na dimensão espiritual”, orienta.

Círculos Bíblicos

Celebrado há mais 30 de anos na Igreja do Brasil, os Círculos Bíblicos são um movimento propriamente para incentivar a leitura da Bíblia. “A importância de celebrá-lo é, sobretudo, porque colocamos em destaque aquela que deve ser a única motivação da nossa vida, a Bíblia”, explica nosso pároco Pe. Reuberson.

Para comemorar o mês da Bíblia, as Igrejas do Brasil costumam oferecer Ciclos Bíblicos como forma de evangelizar e formar discípulos missionários de Jesus Cristo. “Os Ciclos Bíblicos embora hoje, eles estejam em flagrante declínio, são importantes para ler, conhecer e eleger à vontade para viver”, finaliza o Pe. Reuberson.

Por Val Veríssimo

(Fonte: CNBB/ Adaptada)


Conheça o Sínodo para a Amazônia

Sínodo para a AmazôniaEm outubro de 2019, a Igreja retoma a célebre frase do Papa Paulo VI “Cristo aponta para a Amazônia”. Convocada pelo Papa Francisco, a assembleia sinodal terá como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Saiba mais sobre o Sínodo dos Bispos e o contexto da assembleia deste ano:

O que é Sínodo: O Sínodo é uma instituição permanente da Igreja Católica que foi criada pelo Papa Paulo VI, em resposta aos desejos dos padres do Concílio Vaticano II. A intenção é manter vivo o espírito de colegialidade nascido na experiência conciliar. A Santa Sé define o Sínodo, em termos gerais, como uma assembleia de bispos que representa o episcopado católico e tem como tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja universal dando-lhe seu conselho.

Qual o tema: O papa Francisco convocou, em outubro de 2017, a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para outubro de 2019, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”. O objetivo, nas palavras do pontífice, “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta. Que os novos Santos intercedam por este evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz”.

Qual a motivação: Em 2018, durante o encontro com povos indígenas de quase todos os países da Pan-Amazônia, em Porto Maldonado, Peru, o papa Francisco falou sobre a riqueza dos saberes e da diversidade indígena, sobre a necessidade de defender a Amazônia e seus povos e, também, sobre as ameaças que estes povos enfrentam em função dos interesses econômicos em seus territórios.

Um Sínodo para CONHECER a riqueza do bioma, os saberes e a diversidade dos Povos da Amazônia, especialmente dos povos Indígenas, suas lutas por uma ecologia integral, seus sonhos e esperanças.

Um Sínodo para RECONHECER as lutas e resistências dos Povos da Amazônia que enfrentam mais de 500 anos de colonização e de projetos desenvolvimentistas pautados na exploração desmedida e na destruição da floresta e dos recursos naturais;

Um Sínodo para CONVIVER com a Amazônia, com o modo de ser de seus povos, com seus recursos de uso coletivo compartilhados num modo de vida não capitalista adotado e assimilado milenarmente.

Um Sínodo para DEFENDER a Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes projetos econômicos desenvolvimentistas.

Quais são as pautas: De acordo com o Documento Preparatório, o Sínodo vai refletir sobre os novos caminhos de evangelização que devem ser elaborados para e com o povo de Deus que habita na região amazônica: habitantes de comunidades e zonas rurais, de cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, migrantes e deslocados e, especialmente, para e com os povos indígenas.

As reflexões do Sínodo para a Pan-Amazônia superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta “Partimos de um território específico, do qual se quer fazer uma ponte para outros biomas essenciais do nosso mundo: Bacia Fluvial do Congo, corredor biológico mesoamericano, florestas tropicais da Ásia Pacífica e Aquífero Guarani, entre outros”.

Processo Sinodal: O processo preparatório do Sínodo consistiu em um amplo processo de escuta, que teve como primeiros interlocutores os povos indígenas e todas as comunidades que vivem na Amazônia. “Queremos saber como imaginam um “futuro tranquilo” e o “bem viver” para as futuras gerações. Como podemos colaborar na construção de um mundo capaz de romper com as estruturas que sacrificam a vida e com as mentalidades de colonização para construir redes de solidariedade e interculturalidade? Sobretudo queremos saber: Qual é a missão específica da Igreja, hoje, diante desta realidade?”.

Fonte: Portal da CNBB (cnbb.org.br)


CF-2019 Incentiva participação cidadã nas políticas públicas

CARTAZ CF-2019

Buscando estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade, a Campanha da Fraternidade 2019 inicia em todo o país no dia 6 de março. Com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela Justiça”, a CF busca conhecer como são formuladas e aplicadas as Políticas Públicas estabelecidas pelo Estado brasileiro.

Como forma de despertar a consciência e incentivar a participação de todo cidadão na construção de Políticas Públicas em âmbito nacional, estadual e municipal, a Comissão Nacional da CF preparou o texto-base, que contou com a participação e contribuição de vários especialistas e pesquisadores, bem como com a consulta a lideranças de movimentos e entidades sociais. Dividido no método ver, julgar e agir, o subsídio aponta uma série de iniciativas que ajudarão a colocar em prática as propostas incentivadas pela Campanha.
Como exemplo dessas ações, o texto-base além de contextualizar o que é o poder público, os tipos de poder e os condicionantes nas políticas públicas, fala sobre o papel dos atores sociais nas Políticas Públicas. A participação da sociedade no controle social das Políticas Públicas é outro tema de destaque no texto-base. “Política Pública não é somente a ação do governo, mas também a relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais ou coletivos, envolvidos na solução de determinados problemas”, afirma o secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner.
Ainda segundo Dom Leonardo, devem ser utilizados princípios, critérios e procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas que garantam aos povos os direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em outras leis. Por isso, segundo ele, a temática se fez necessária para a CF de 2019. “Políticas Públicas são as ações discutidas, aprovadas e programadas para que todos os cidadãos possam ter vida digna”, afirma Dom Leonardo.

Subsídios:

Além do texto-base, outros materiais foram produzidos para dar apoio nesta missão: círculos bíblicos, que trazem aprofundamento da Palavra de Deus; sugestão de celebração ecumênica, para reunir pastores e representantes de outras Igrejas na preparação desse evento; a Cartilha Fraternidade Viva, rodas de conversa com a perspectiva de aprofundar-se no tema e a vigília eucarística e celebração da misericórdia.Também pensando nos jovens, a Comissão para a Juventude da CNBB preparou um material que é direcionado a juventude das diversas realidades eclesiais, para que sejam contagiados pela Luz de Cristo. Aos educadores, por ter um papel fundamental na sociedade, fazendo com que os educandos sejam sempre esclarecidos sobre a sua realidade e as possibilidades de melhor desenvolver a sociedade, foi preparado subsídios para o Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e Ensino Superior. Todos eles estão disponíveis no site da Editora da CNBB (www.edicoescnbb.com.br/campanha-da-fraternidade-2019) .

Cartaz CF-2019:

Levando em consideração que as Políticas Públicas dizem respeito a toda a sociedade em suas várias dimensões, e que visam assegurar os direitos humanos mais elementares para que cada pessoa tenha condições de viver com dignidade, o autor do cartaz da CF 2019, Pe. Erivaldo Dantas, buscou ressaltar na arte, através de silhuetas, a presença de algumas categorias sociais que considera importante para a reflexão da Igreja e da sociedade.
A escolha da obra vencedora foi feita pelo Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da CNBB, e devia obedecer especificações estipuladas no edital do concurso, entre as quais evidenciar o tema da CF 2019: “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça (Is 1,27)”.

“Desejo que a proposta para o Cartaz da CF possa representar o anseio da Igreja no Brasil de ajudar a sociedade a refletir e reconhecer seus direitos, através das Políticas Públicas, ou, quem sabe, entender e discutir a necessidade da elaboração de novas políticas em consonância com as necessidades humanas da sociedade atual”, finaliza o padre.

Fonte: Portal da CNBB (cnbb.org.br)


Em 2019, o caminho do Sínodo continua nas regiões e vicariatos

Sínodo

 

A segunda fase do caminho sinodal, em 2019, acontecerá no âmbito das regiões episcopais e vicariatos ambientais. A abertura dessa etapa será em 30 de março, em cada região.

A Comissão de Coordenação Geral do sínodo já elaborou o regulamento das assembleias regionais (disponível no site arquisp.org.br/sinodo) e agora prepara a redação do instrumento de trabalho das reuniões.

As assembleias serão realizadas em quatro sessões com os objetivos de avaliar e refletir sobre a vida e a missão da Igreja nos vicariatos, a partir dos relatórios das paróquias e realidades ambientais; refletir sobre as realidades eclesiais supraparoquiais, como os serviços, as pastorais, associações, movimentos e novas comunidades, tendo em conta os dados dos levantamentos feitos na fase paroquial; discernir sobre os principais desafios e urgências pastorais; elaborar propostas para a melhor realização da missão na região e na Arquidiocese.

Os resultados das assembleias regionais serão encaminhados para a assembleia arquidiocesana, última etapa do sínodo, que acontecerá em 2020.

E AS PARÓQUIAS?

Enquanto acontecem as assembleias regionais, as paróquias são convidadas a continuar o caminho sinodal. Em março de 2019, Dom Odilo publicará uma carta pastoral à Arquidiocese, dando indicações de como as comunidades viverão o sínodo em 2019.

Uma das indicações é que as paróquias se dediquem à tomada de consciência de sua própria história, promovendo iniciativas que estimulem os fiéis a aprofundar seu sentido de pertencer à comunidade. De igual modo, o Arcebispo propõe que se promovam a história dos santos padroeiros das paróquias como testemunhas de seguimento de Jesus Cristo que inspiram a missão paroquial.

Outro grande destaque de 2019 será o Mês Missionário Extraordinário, convocado pelo Papa Francisco, a ser celebrado em outubro. A Arquidiocese prepara uma série de iniciativas missionárias para esse período do ano, já como resposta à percepção trazida pelo levantamento de campo feito nas paróquias em 2018.

Fonte: Portal do Jornal “O São Paulo”, da Arquidiocese de São Paulo.


Papa Francisco: “Deixemo-nos ser surpreendidos por Jesus neste Natal”

Papa Francisco

Olhemos para o primeiro Natal da história para descobrir os gostos de Deus. Aquele primeiro Natal da história foi cheio de surpresas. Começa com Maria, que era esposa prometida de José: chega o anjo e lhe muda a vida. De virgem será mãe. Prossegue com José, chamado a ser pai de um filho sem gerá-lo. Um filho que chega no momento menos indicado, isso é, quando Maria e José eram esposos prometidos e, segundo a Lei, não podiam morar juntos. Diante do escândalo, o bom senso do tempo convidada José a repudiar Maria e salvar o seu bom nome, mas ele, que mesmo que tivesse direito, surpreende: para não prejudicar Maria, pensa em despedir-se dela em segredo, a custo de perder a própria reputação. Depois, outra surpresa: Deus em sonho muda seus planos e lhe pede para receber Maria consigo. Nascido Jesus, quando tinha seus projetos para a família, ainda em sonho lhe é dito para levantar-se e ir para o Egito. Em síntese, o Natal leva a mudanças de vida inesperadas. E se nós queremos viver o Natal, devemos abrir o coração para estar dispostos às surpresas, isso é, a uma mudança de vida inesperada.

Mas é na noite de Natal que chega a surpresa maior: o Altíssimo é um pequeno menino. A Palavra divina é uma criança, que literalmente significa “incapaz de falar”. E a palavra divina se torna “incapaz de falar”. A acolher o Salvador não são as autoridades da época ou dos lugares ou os embaixadores: não; são os simples pastores que, surpreendidos pelos anjos enquanto trabalhavam de noite, correm sem demora. Quem esperaria isso? Natal é celebrar o inédito de Deus, ou melhor, é celebrar um Deus inédito, que derruba as nossas lógicas e as nossas expectativas.

Celebrar o Natal, então, é acolher na terra as surpresas do Céu. Não se pode viver “terra terra”, quando o Céu trouxe as suas novidades ao mundo. Natal inaugura uma época nova, onde a vida não se programa, mas se doa; onde não se vive para si, na base dos próprios gostos, mas para Deus; e com Deus, porque do Natal Deus é o Deus conosco, que vive conosco, que caminha conosco. Viver o Natal é deixar-se sacudir pela sua surpreendente novidade. O Natal de Jesus não oferece o calor reconfortante da lareira, mas o arrepio divino que sacode a história. Natal é a revanche da humildade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre o tumulto, da oração sobre “meu tempo”, de Deus sobre meu eu.

Celebrar o Natal é fazer como Jesus, vindo para nós necessitados, e ir em direção a quem precisa de nós. É fazer como Maria: confiar, dóceis a Deus, mesmo sem entender o que Ele fará. Celebrar o Natal é fazer como José: levantar-se para realizar aquilo que Deus quer, mesmo se não é segundo os nossos planos. São José é surpreendente: no Evangelho, nunca fala: não há uma palavra, de José, no Evangelho; e o Senhor lhe fala no silêncio, lhe fala justamente no sono. Natal é preferir a voz silenciosa de Deus aos rumores do consumismo. Se soubermos estar em silêncio diante do presépio, Natal será também para nós uma surpresa, não uma coisa já vista. Estar em silêncio diante do presépio: este é o convite, para o Natal. Tire um pouco de tempo, vá diante do presépio e fique em silêncio. E ouvirás, verás a surpresa.

Infelizmente, porém, pode-se errar a festa, e preferir às novidades do céu as coisas usuais da terra. Se o Natal permanece somente uma bela festa tradicional, onde no centro estamos nós e não Ele, será uma ocasião perdida. Por favor, não mundanizemos o Natal! Não coloquemos de lado o Festejado, como então, quando “veio entre os seus e os seus não o acolheram” (Jo 1, 11). Desde o primeiro Evangelho do Advento o Senhor nos chama a atenção, pedindo para não nos sobrecarregarmos com “dissipações” e “preocupações da vida” (Lc 21, 34). Nestes dias se corre, talvez como nunca durante o ano. Mas assim se faz o oposto daquilo que Jesus quer. Colocamos a culpa em tantas coisas que enchem os dias, no mundo que vai veloz. E Jesus não culpou o mundo, pediu para nós não nos deixarmos levar, para vigiar em todo momento rezando (cfr v. 36).

Bem, será Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio; se, como Maria, dissermos “eis-me aqui” a Deus; se, como Jesus, formos próximos a quem está sozinho; se, como os pastores, sairmos dos nossos recintos para estar com Jesus. Será Natal se encontrarmos a luz na pobre gruta de Belém. Não será Natal se procurarmos o brilho cintilante do mundo, se nos enchermos de presentes, almoços e jantares, mas não ajudarmos pelo menos um pobre que se assemelha a Deus, porque no Natal Deus veio pobre.

Queridos irmãos e irmãs, desejo-vos um bom Natal, um Natal rico das surpresas de Jesus! Podem parecer surpresas incômodas, mas são os gostos de Deus. Se forem nossas, faremos a nós mesmos uma esplêndida surpresa. Cada um de nós tem escondida no coração a capacidade de se surpreender. Deixemo-nos surpreender por Jesus neste Natal.

 

Catequese do Papa Francisco
Sala Paulo VI – Vaticano

Quarta-feira, 19 de dezembro de 2018


Papa Francisco: “Que o Advento não seja mundano. É o tempo para purificar a fé.”

PAPA FRANCISCO novo

Na capela da Casa Santa Marta, em 03/12/2018, Papa Francisco celebrou a Missa e falou do tempo do Advento como a ocasião para compreender plenamente o nascimento de Jesus em Belém e para cultivar a relação pessoal com o Filho de Deus.

O tempo do Advento tem “três dimensões”: passado, futuro e presente. Celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta, o Papa recordou que o Advento é o tempo propício “para purificar o espírito, para fazer crescer a fé com esta purificação”.

Que o Natal não seja mundano

Papa Francisco ressaltou que a primeira dimensão do Advento é o passado, “a purificação da memória”: “recordar bem que não nasceu a árvore de Natal”, que certamente é um “belo sinal”, mas recordar que “nasceu Jesus Cristo”.Nasceu o Senhor, nasceu o Redentor que veio para nos salvar. Sim, a festa…nós sempre temos o perigo, sempre teremos em nós a tentação de mundanizar o Natal, mundanizá-lo … quando a festa deixa de ser contemplação – uma bela festa de família com Jesus no centro – e começa a ser festa mundana: fazer compras, presentes, isso e aquilo outro…e o Senhor permanece ali, esquecido. Inclusive na nossa vida: sim, nasceu, em Belém, mas… E o Advento é para purificar a memória daquele tempo passado, daquela dimensão.

Purificar a esperança

Além disso, o Advento serve para “purificar a esperança”, para se preparar “para o encontro definitivo com o Senhor”.

Porque aquele Senhor que veio lá, voltará, voltará! E voltará para nos perguntar: “Como foi a sua vida?”. Será um encontro pessoal. Nós, o encontro pessoal com o Senhor, hoje, teremos na Eucaristia e não podemos ter um encontro assim, pessoal, com o Natal de 2000 anos atrás: temos a memória do que foi. Mas quando Ele voltar, teremos aquele encontro pessoal. É purificar a esperança.

O Senhor bate todos os dias ao nosso coração

Por fim, o Papa convidou todos a cultivarem a dimensão cotidiana da fé, não obstante as preocupações e os muitos afazeres, cuidando da própria “casa interior”. O nosso Deus, de fato, é o “Deus das surpresas” e os cristãos deveriam perceber todos os dias os sinais do Pai Celeste, o seu falar conosco hoje.

E a terceira dimensão é mais cotidiana: purificar a vigilância. Vigilância e oração são duas palavras para o Advento; porque o Senhor veio na História em Belém; virá, no final do mundo e também no final da vida de cada um de nós. Mas vem todos os dias, em todos os momentos, no nosso coração, com a inspiração do Espírito Santo.

Fonte: Barbara Castelli – Cidade do Vaticano (Portal www.vaticannews.va)


Papa Francisco: “A verdadeira liberdade é o amor verdadeiro”

Papa Francisco 12.09.2018

“O amor verdadeiro é a verdadeira liberdade, pois desapega da posse, reconstrói as relações, sabe acolher e valorizar o próximo, transforma todo esforço em um dom alegre e torna-o capaz de comunhão. O amor torna livres mesmo na prisão, ainda se fracos e limitados”, disse Francisco.

O amor verdadeiro é a verdadeira liberdade. A escravidão do próprio ego aprisiona mais do que uma prisão, mais do que uma crise de pânico, mais do que uma imposição de qualquer gênero. Assim, o terceiro mandamento nos convida a celebrar no repouso a libertação, trazida por Jesus.

Na catequese da Audiência Geral de 12/09/2018, Papa Francisco voltou a refletir sobre os dez mandamentos, retomando o terceiro, sobre o repouso,  sobre o qual havia começado a falar na semana precedente.

O fim da escravidão 

Dirigindo-se aos 12 mil presentes na Praça São Pedro, Francisco começou explicando “uma preciosa diferença” existente entre o Decálogo publicado no Livro do Êxodo e aquele publicado no Livro do Deuteronômio. Enquanto no primeiro o motivo do repouso “é a bênção da criação”, no segundo é comemorado “o fim da escravidão”. “Neste dia – observa –  o escravo deve repousar como o patrão, para celebrar a memória da Páscoa da libertação”, e acrescenta:

“Os escravos, na verdade, por definição, não podem descansar. Mas existem tantos tipos de escravidão, quer exteriores como interiores. Existem restrições externas como  as opressões, as vidas sequestradas pela violência e por outros tipos de injustiça. Existem depois, as prisões interiores, que são, por exemplo, bloqueios psicológicos, os complexos, os limites de caráter e outros mais”.

“Existe repouso nessas condições?”, pergunta o Papa. “Pode um homem preso ou oprimido permanecer livre? E pode uma pessoa atormentada por dificuldades internas ser livre?”.

Misericórdia traz liberdade interior 

Francisco responde dizendo que existem pessoas que, mesmo no cárcere, “vivem uma grande liberdade de espírito”. Para ilustrar sua afirmação, cita São Maximiliano Kolbe e o cardeal Van Thuan, “que transformaram obscuras opressões em locais de luz. Assim como pessoas marcadas por grandes fragilidades interiores, que porém conhecem o repouso da misericórdia e sabem transmitir isso”:

“ O encontro com a misericórdia de Deus dá uma grande liberdade interior ”

“A misericórdia de Deus nos liberta e quando você se encontra com a misericórdia de Deus tem uma grande liberdade interior e tem capacidade de transmiti-la. Por isso é importante ser aberto à misericórdia de Deus para deixar de ser escravo de si mesmo”.

A verdadeira liberdade 

O que é então a verdadeira liberdade?

A liberdade de escolha, fazendo aquilo que se deseja, “não basta para ser realmente livres, e tampouco felizes. A verdadeira liberdade é muito mais”, afirma, explicando:

“ O ego aprisiona e torna a pessoa escrava ”

“De fato, há uma escravidão que aprisiona mais que uma prisão, mais do que uma crise de pânico, mais do que uma imposição de qualquer tipo: a escravidão do próprio ego.  Aquelas pessoas que parece que durante todo o dia estão se refletindo no espelho para ver o ego. E o próprio ego tem uma estatura mais alta que o próprio corpo. São escravas do ego”.

O ego, um torturador 

“O ego – observa Francisco –  pode se tornar um torturador que tortura o homem onde quer que esteja e lhe causa a mais profunda opressão, aquela que se chama “pecado”, que não é uma simples violação de um código, mas fracasso da existência e condição de escravos”.

“ O pecado não é uma simples violação de um código, mas fracasso da existência e condição de escravos ”

O pecado, no final das contas – explica – é dizer e fazer ego: “Eu quero isto, isto, isto e não me importa se existe um limite, se existe um mandamento, nem mesmo me importa se existe amor. Ego! Este é o pecado.” Pensemos nas paixões humanas:

“O guloso, o lascivo, o avarento, o zangado, o irascível, o invejoso, o preguiçoso, o soberbo, e assim por diante,  são escravos de seus vícios, que os tiranizam e os atormentam. Não há trégua para o guloso, porque a gula é a hipocrisia do estômago, que nos faz acreditar que está vazio. O estômago hipócrita nos faz gulosos, somos escravos do estômago hipócrita. Não há trégua para o guloso”.

“ O guloso, o lascivo, o avarento, o zangado, o irascível, o invejoso, o preguiçoso, o soberbo, e assim por diante, são escravos de seus vícios, que os tiranizam e os atormentam ”

E o lascivo, que deve viver de prazer, a ânsia de possuir destroi o avarento, sempre acumulando dinheiro, fazendo mal aos outros.  O fogo da ira e o caruncho da inveja arruínam as relações; a preguiça que evita qualquer esforço torna incapazes de viver; o egocentrismo soberbo escava um fosso profundo entre si e os outros.”

E as pessoas invejosas. “Os escritores dizem que a inveja deixa amarelo o corpo e a alma. Como quando uma pessoa tem hepatite fica amarela, os invejosos tem amarela a alma, porque nunca podem ter o frescor da saúde da alma. A inveja destrói”.

Celebrar no repouso a libertação em Jesus Cristo 

“Queridos irmãos e irmãs, quem é, portanto, o verdadeiro escravo? Quem é aquele que não conhece repouso? Quem não é capaz de amar!”

“ Verdadeiro escravo é quem não é capaz de amar ”

O Senhor Jesus nos liberta da escravidão do pecado, tornando o homem capaz de amar. Assim, o terceiro mandamento nos convida a celebrar no repouso esta libertação.

O verdadeiro amor 

O verdadeiro amor, portanto,  é a resposta para a pergunta “o que é a verdadeira liberdade?”:

“O amor verdadeiro é a verdadeira liberdade: desapega da posse, reconstrói as relações, sabe acolher e valorizar o próximo, transforma todo esforço em um dom alegre e torna-o capaz de comunhão. O amor  torna livres mesmo na prisão, ainda se fracos e limitados”.

Esta é a liberdade – disse o Santo Padre ao concluir –  que recebemos de nosso Redentor, Jesus Cristo.

Fonte: www.vaticannews.va

 


“Sínodo Arquidiocesano: A Catequese não pode falhar” – Artigo de Dom Odilo

Dom Odilo

Na última semana de agosto, está em destaque a vocação dos cristãos leigos e as muitas maneiras como eles participam da vida e da missão da Igreja. A Igreja é formada por um imenso “povo de batizados”, um “povo de vocacionados”, em que cada um recebeu de Deus um dom para o seu próprio proveito, mas também para o proveito da Igreja inteira. Recebemos os dons em função de missões que devemos cumprir.

Dois são os vastos campos da vida e da missão da Igreja onde os leigos são chamados a participar: na vida interna da Igreja, eles exercem diversos ministérios não ordenados e também partilham, com o clero, as responsabilidades pelo anúncio do Evangelho, a organização dos vários serviços nas comunidades e o testemunho da vida cristã.

O outro vastíssimo campo da missão dos leigos é o “mundo secular”, onde eles são cidadãos ao lado dos demais cidadãos, encarregados de promover a “obra boa” em relação à vida familiar e matrimonial, à educação, à cultura e ao trabalho profissional, às responsabilidades públicas e políticas. Os leigos são mensageiros do Evangelho pela palavra, a ação e o testemunho nos ambientes do “mundo”, onde a Igreja não está presente como instituição.

Os cristãos leigos têm a missão, em nome da Igreja, de edificar o mundo conforme o reino de Deus. Em todas as instâncias da vida e da atividade humana em que estão inseridos, eles devem fazer levar a luz, o sal e o fermento do Evangelho de Cristo. São testemunhas de Deus e ajudam as pessoas a se encaminharem para Deus. E cabelhes a missão nada fácil de fazer a síntese entre a fé professada e a vida de cada dia.

Entre os leigos que desempenham serviços na vida interna da Igreja lembramos especialmente os catequistas. Eles têm a missão de ajudar os irmãos na iniciação à vida cristã e na fé da Igreja Católica. São pedagogos da fé, que ajudam crianças, adolescentes, jovens e adultos a conhecerem os mistérios da fé e da vida cristã e os introduzem, pouco a pouco, na vida da comunidade eclesial.

A fé e a vida cristã despertam do encontro com Deus e com Jesus Cristo Salvador e, por isso, a ação dos catequistas tem o objetivo de ajudar as pessoas a terem esse encontro com Deus através do conhecimento das verdades da fé e através da prática cristã. Os catequistas ajudam a fazer a experiência da fé vivida, conforme o convite do salmo: “provai e vede como o Senhor é bom!” (Sl 33/34).

A catequese é um aspecto fundamental da evangelização e não pode faltar em nenhuma paróquia ou comunidade cristã. Ela possui diversos momentos, que vão do “primeiro anúncio”, ou querigma, ao aprofundamento do conhecimento e da adesão de fé, e deve levar à maturidade da fé, que se traduz na vida cristã coerente e na prática das virtudes e das bem-aventuranças. De fato, a catequese continua ao longo de toda a vida e requer sempre novos aprofundamentos diante das situações e circunstâncias novas da vida.

A boa catequese não pode ater-se apenas ao conhecimento intelectual da fé e da religião, mas precisa ser orientada necessariamente à prática da vida cristã: deve levar à oração, nas suas múltiplas formas; à vida moral coerente com os mandamentos de Deus e com os ensinamentos de Jesus; deve levar à prática das virtudes, à vida honesta e ao envolvimento social para a edificação do mundo “conforme Deus”. A catequese deve também levar à participação ativa e generosa na vida e na missão da comunidade cristã. O caminho da catequese não pode deixar de ser um caminho paciente e perseverante de inserção na comunidade eclesial, onde os católicos se sentem como em sua casa e em sua família. Por isso, a catequese não pode deixar de apresentar uma boa e correta visão da Igreja de Cristo, da qual os catequizandos também são parte e devem sentir-se participantes. A catequese seria muito incompleta se não conseguisse transmitir também um amor sincero e filial à Igreja.

O sínodo arquidiocesano que estamos realizando deverá fazer uma boa avaliação sobre a situação real da catequese em nossas paróquias e comunidades. A catequese é uma ação prioritária da Igreja e deve merecer o melhor de nossas atenções. Se ela for falha, estaremos colocando seriamente em risco o futuro da evangelização e da transmissão da fé cristã.

 

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
(http://arquisp.org.br/ arcebispo/artigos-e- pronunciamentos – 29/08/2018)


“Sínodo Arquidiocesano: Como estamos?” – Artigo de Dom Odilo

Dom OdiloO primeiro ano do sínodo arquidiocesano está sendo dedicado a uma grande tomada de consciência da situação sócio religiosa e pastoral na Igreja particular de São Paulo. Como estamos, em cada uma de nossas comunidades paroquiais, em cada organização eclesial e pastoral? Qual é o rosto de cada uma de nossas comunidades? Em breve, vai ser realizado um grande levantamento sobre a situação religiosa e pastoral em cada paróquia e em toda a Arquidiocese de São Paulo.

Há muitos anos, desde o Concílio Vaticano II, a Igreja está sendo chamada a se renovar na sua vida e na sua missão. Muitos documentos importantes sobre isso já foram produzidos em grandes reuniões eclesiais, como o próprio Concílio, as assembleias do Sínodo dos Bispos, as Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e do Caribe, como a de Aparecida (2007), assembleias da CNBB, sem esquecer os importantes documentos do magistério do Papa Francisco e de seus predecessores. Todos apontam para a mesma direção: a retomada da missão e da evangelização, a conversão pessoal e comunitária a Deus e aos caminhos do Evangelho, o testemunho eloquente do Evangelho.

“Não podemos continuar, apenas, com uma pastoral de conservação; precisamos fazer uma pastoral decididamente missionária” (Documento de Aparecida). E o Papa Francisco nos chama a sermos uma “Igreja em saída missionária”, em estado permanente de missão. Não podemos continuar a fazer as coisas, como se nada tivesse mudado ao nosso redor! Passamos por uma importante mudança de época. O mundo contemporâneo, a cultura e os novos modos de vida e de interação das pessoas trouxeram profundas mudanças. E tudo isso afeta fortemente as convicções e atitudes religiosas e morais das pessoas e os modos de vida na sociedade. Muitas vezes, é para melhor. Outras vezes, certamente não.

Estamos cientes dos efeitos dessa mudança de época sobre o nosso povo católico e nossas comunidades? A mensagem da Igreja ainda atinge as pessoas? A quantas, de fato, alcançamos com nossas pregações e documentos?  Como reagem as pessoas à mensagem da Igreja? Quem são e que perfil têm as pessoas que frequentam nossa Igreja e são atingidas, de alguma maneira, pela sua mensagem? Conseguimos alcançar e envolver as novas gerações, crianças, adolescentes e jovens? Como anda a vida sacramental, expressão importante da fé católica e da vida da Igreja? Como está a frequência à missa dominical, a procura do batismo das crianças, a confissão, o casamento religioso? E na catequese, como processo de iniciação e aprofundamento da fé e da vida cristã, estão, ao menos, as famílias e pessoas católicas? Com qual intensidade é feita a caridade organizada, enquanto como testemunho indispensável e fruto da fé nas nossas comunidades? Os cristãos leigos e leigas, “sal da terra e fermento na massa”, estão envolvidos na promoção do bem comum, na edificação da sociedade justa e fraterna e no zelo pela “casa comum”?

Essas perguntas e muitas outras serão objeto de uma pesquisa promovida em todas as paróquias da Arquidiocese em vista do levantamento da realidade social, religiosa e pastoral de cada comunidade. E em cada paróquia será feito mais um levantamento sobre os indicadores objetivos dos serviços religiosos e pastorais oferecidos pelas paróquias. Para promover a “conversão pastoral e missionária”, precisamos estar conscientes dos reais desafios e urgências que temos a enfrentar na evangelização durante os próximos anos. Os dados oferecidos por esses levantamentos, junto com as indicações e contribuições dos grupos do sínodo nas comunidades, serão matéria de reflexão e discernimento nas assembleias do sínodo nas paróquias nos meses de outubro e novembro deste ano.

As preocupações com as necessárias mudanças de atitude e de ação não podem ficar apenas nos altos níveis das responsabilidades da Igreja. Não basta que o Papa ou uma assembleia dos Bispos façam documentos e apelos em favor da nova evangelização: é preciso que essas chamadas, decorrentes do Evangelho, da voz das circunstâncias e do zelo pastoral, cheguem às pessoas e comunidades locais e concretas da Igreja. De fato, a Igreja é, antes e acima de tudo, uma grande comunidade de pessoas reunidas em torno de Cristo pela fé e pela vida orientada pelo Evangelho.

As organizações e estruturas da Igreja são necessárias, assim como suas doutrinas e normas de organização e de vida. Mas estas estão em função do bem da Igreja, que é a graça do Evangelho, e das pessoas, que fazem a Igreja ser o povo de Deus, a comunidade dos testemunhas e missionários de Jesus Cristo no mundo. Por isso, a preocupação com as mudanças e a renovação não pode ficar apenas voltada para as estruturas e organizações da Igreja: ela precisa chegar às pessoas e comunidades vivas da Igreja.

Cardeal Odilo Pedro Sherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 12/07/2018


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