Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Sínodo Ordinário sobre a Família

Faltando Menos de um mês para a celebração do Sínodo Ordinário sobre a Família no Vaticano, o Arcebispo Emérito de Quito (Equador) e enviado do Papa Francisco ao X Congresso Nacional Eucarístico e Mariano do Peru, Cardeal Raúl Vela Chiriboga, assinalou que não podemos “esperar de um Sínodo coisas extraordinárias que se afastem da doutrina da fé”.

“A Igreja é depositária de uma fé e esta está nos ensinamentos de Jesus, não podemos estar contra seu mandamento”, explicou o Cardeal ao Grupo ACI no dia 14 de agosto em Piura (Peru), onde participou do evento ao qual foi enviado pelo Santo Padre.

O Arcebispo Emérito de Quito sublinhou que “existem verdades fundamentais” que não mudarão “por mais que a imprensa diga coisas contrárias ou queira interpretar mal o que Senhor manda”.

O Cardeal reconheceu que é necessário buscar “uma maior aproximação pastoral para os fiéis, como também para os fiéis separados e para aqueles fiéis que estão em novas uniões”.

“Mas isso não significa que terão a oportunidade de voltar a comungar com o Senhor porque sua situação é irregular”, indicou o Cardeal.

O que podemos fazer, explicou, é “oferecer-lhes outros meios’, como por exemplo a comunhão espiritual e que também se sintam apoiados e ajudados na oração para que descubram a misericórdia de Deus para com todos”.

O Arcebispo equatoriano assinalou ainda a necessidade de que a preparação dos noivos para o matrimônio se realize através de uma forma mais séria e durante mais tempo.

“Agora improvisam muito: duas reuniões, cada uma de dez minutos são suficientes para que os fiéis recebam este sacramento que transformará toda sua vida”, criticou.

Esta pastoral, assinalou, “requer que nós exortemos os fiéis a descobrirem a grandiosidade que significa receber o sacramento do matrimônio”.

“Não encontraremos A força do matrimônio pelos meios de comunicação, não a encontraremos na televisão, mas na graça de Deus que chega a nós através dos sacramentos”, disse o Cardeal Chiriboga.

O Arcebispo Emérito de Quito recordou ainda a visita do Papa Francisco ao Equador em julho deste ano, e expressou seu desejo de que foi uma graça de Deus a presença do Santo Padre, “através da sua palavra e seu testemunho”. “Tudo o que nos disse, nos recordou quem Jesus é para nós e, por conseguinte como temos que imitá-lo em nossa vida”, destacou.

O Cardeal assegurou que a visita do Pontífice inspirou a Igreja no Equador a que “todos procuremos a paz, a conversão, e que todos sejamos os construtores de mais conscientização, mais igualdade, que o Senhor nos chama a construir”.

“Estamos nessa oração constante ao Senhor, para que a paz retorne ao Equador, e que aconteça um diálogo autêntico para que juntos busquemos as melhores soluções que conduzam nossa pátria a um futuro mais sério, de desenvolvimento, equidade, justiça e liberdade”, disse o Cardeal Chiriboga.

Por ACIdigital


Urgências na ação evangelizadora e pastoral

No esforço de ser fiel à sua história, buscando uma maior fidelidade a Jesus Cristo e, atenta às imensas possibilidades que a cidade de São Paulo lhe proporciona para evangelizar, não obstante os desafios que muitas vezes são angustiantes, a Arquidiocese de São Paulo, através do 11º Plano de Pastoral, deseja apontar pistas para desencadear uma ação audaz, decidida e comprometida com o Evangelho, onde todos os seus membros sintam-se corresponsáveis e participantes da sua missão, no lugar e tarefa que lhes são próprios.

A premissa fundamental para a escolha e a elaboração das propostas pastorais e seus respectivos projetos é evangelizar bem e formar discípulos missionários conscientes de que a conversão pastoral é o caminho necessário para a realização deste objetivo.

“Uma verdadeira conversão pastoral deve estimular-nos e inspirar atitudes e iniciativas de autoavaliação e coragem de mudar várias estruturas pastorais em todos os níveis, serviços, organismos, movimentos e associações. Temos necessidade urgente de viver na Igreja a paixão que norteia a vida de Jesus Cristo: o Reino de Deus, fonte de graça, justiça, paz e amor. Por esse Reino, o Senhor deu a vida” (DGAE 2011-2015, n.26).

A partir da conversão pastoral e missionária, entende-se a importância das urgências pastorais: são urgências na evangelização. Tendo consciência da sua missão de transmitir e dar um alicerce sólido à fé, a Igreja do Brasil destaca cinco urgências na evangelização, às quais a Arquidiocese de São Paulo acrescenta uma sexta, relacionada à juventude.

Ao adotar as seis urgências como o roteiro para sua ação pastoral evangelizadora, a Arquidiocese de São Paulo quer ampliar o esforço já existente nas comunidades paroquiais, nos movimentos e organismos eclesiais, “na busca e no encontro de caminhos para a transmissão e o fortalecimento da fé” (DGAE 2011-2015, n.28).

Estas urgências, embora tratadas particularmente, estão profundamente ligadas entre si, de modo que, assumir uma delas, exige assumir as demais. Na elaboração dos programas pastorais para os próximos anos, será importante fazer “muito mais do que um cronograma de ações ou um elenco de atividades pontuais e dispersas. As ações e programas pastorais específicos devem evitar a dispersão (cf. DGAE 2011-2015, n. 136).

Em cada uma das urgências são apresentadas, a seguir, algumas indicações, considerando a realidade pastoral da Arquidiocese, e um elenco de projetos pastorais a serem implementados pelos diversos sujeitos pastorais da Arquidiocese: paróquias, comunidades, setores pastorais, regiões episcopais, movimentos, associações e organismos eclesiais e coordenações arquidiocesanas.

Primeira urgência: Igreja em estado permanente de missão 

“A atual consciência missionária interpela os católicos a irem ao encontro das pessoas, famílias, comunidades e povos, para lhes comunicar e compartilhar o dom da fé, no encontro com Cristo. Estamos num tempo de urgente saída ”em todas as direções para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra”, um tempo de esquecer o que ficou para trás e correr em busca d´Aquele que já nos alcançou (cf. Fl 3,12-14), um tempo que deve levar a uma forte comoção missionária” (DGAE 2011-2015, n.31).

Grande valor e importância tem o testemunho! “A própria comunidade cristã precisa ser, ela mesma, anúncio, pois o mensageiro é também mensagem” (n.76). Daí a necessidade de valorizar a responsabilidade pessoal. As instituições e tradições são julgadas com base na ação dos indivíduos, por aquilo que sentem, pensam e fazem.

Além disso, é necessário que todas as estruturas pastorais estejam fortemente marcadas pela “consciência missionária” (DAp n. 365) que, sem desprezar o rico patrimônio de fé e religiosidade da vida das comunidades, leve a novas iniciativas e maior criatividade no anúncio e na transmissão da fé.

A dimensão missionária não é, portanto, mais uma realidade a ser trabalhada, mas é a exigência que deve estar presente em tudo o que se faz. As iniciativas, preocupações e programas pastorais devem estar impregnados pelo anseio e o compromisso de anunciar Jesus Cristo!

Indicações pastorais: 

1. Cada sujeito eclesial (ministros ordenados, religiosos, cristãos leigos, comunidades, paróquias, pastorais, movimentos, grupos e organismos eclesiais) deve localizar quais os grupos, pessoas ou categorias sociais que merecem atenção especial, para lhes dar prioridade no trabalho de evangelização (cf. n.78). É preciso ir ao encontro deles, em todos os ambientes. Esta “atenção especial” pode se concretizar na formação de associações de fiéis por categorias profissionais, na criação de comunidades ambientais, ações concretas de solidariedade junto às pessoas que estão em situação de privação de liberdade, com pessoas em situação de rua, adolescentes em conflito com a lei, migrantes, refugiados etc.

2. Missões populares, com períodos de forte envolvimento dos agentes de pastoral durante o ano, visando ambientes, áreas e grupos, para um anúncio claro da pessoa, da mensagem e da redenção de Cristo e da alegria de ter fé e de ser parte da Igreja.

3. Visitas domiciliares e a outros ambientes, levando, com o anúncio explícito do Evangelho, o convite para a participação na vida das comunidades eclesiais.

4. Ação ecumênica, através de momentos de oração em comum, ação social, estudos bíblicos e teológicos, valorizando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos; ao mesmo tempo, promover iniciativas com outras Igrejas cristãs, como a Campanha da Fraternidade Ecumênica, tendo em vista os valores evangélicos da fraternidade, da reconciliação e da paz entre “os homens e mulheres de boa vontade”.

5. Diálogo inter-religioso, para “o encontro fraterno e respeitoso com os seguidores de religiões não cristãs e com todas as pessoas empenhadas na promoção da justiça e na construção da fraternidade”; destaque que merece o diálogo com os judeus e os mulçumanos, irmãos de fé no Deus

Uno; e também com as expressões religiosas dos afrodescendentes e indígenas, e com os ateus (cf. n.83). Com esses grupos, podem-se organizar trabalhos em conjunto pela defesa da vida humana e do meio ambiente, sem perder a identidade da própria fé.

6. Envolvimento das congregações religiosas masculinas e femininas nas iniciativas missionárias realizadas nas paróquias e promovidas pela Arquidiocese.

7. Missão “ad gentes”, oferecendo colaboração missionária através do envio missionário de agentes e disponibilização de recursos às regiões do mundo onde a presença dos cristãos é pequena, ou onde a realidade exige uma ação missionária mais determinada. Neste sentido, realizar o “mês missionário” (outubro), com a coleta para as missões.

8. Organização de grupos missionários jovens, de leigos e de profissionais voluntários em áreas e regiões de missões.

9. Confecção e distribuição de folhetos querigmáticos e com orações e passagens bíblicas, para os presídios situados no âmbito paroquial, bem como para os doentes nos hospitais e nas casas.

10. Formação dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão (MESC) com maior especificidade para sua missão de levar a Palavra de Deus e a Sagrada Comunhão para enfermos, fortalecendo-os na fé.

Segunda urgência: Igreja – Casa da iniciação à vida cristã 

“A fé é dom de Deus! “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” [Bento XVI, DCE,n.1]. Por sua vez, este encontro é mediado pela ação da Igreja, ação que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura” (DGAE 2011-2015, N.37).

81. A adesão a Jesus Cristo implica sempre no anúncio, na apresentação, no testemunho, na proclamação da Palavra de Deus. Cada época tem exigências próprias para que o anúncio de Jesus Cristo se torne eficaz. Se no passado o primeiro contato das pessoas com a Pessoa e a mensagem de Jesus Cristo se dava na família, ou mesmo na sociedade que se confessava “cristã”, hoje não se pode mais dar a fé por pressuposta.

“Tal pressuposto, não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade, devido a uma profunda crise de fé, que atingiu muitas pessoas” (Bento XVI, Porta Fidei, n.2).

Por isso, é necessário “desenvolver, em nossas comunidades, um processo de iniciação à vida cristã que conduza a um encontro pessoal cada vez mais profundo com Jesus Cristo” (n.40).

A iniciação cristã não se realiza numa única vez na vida de cada pessoa, nem se esgota na preparação para os Sacramentos da Iniciação Cristã; ela deve ser ratificada e fortalecida inúmeras vezes, tantas quantas o dia-a-dia exigir. Assim, as comunidades devem tornar-se mistagógicas por excelência, ou seja, preparadas para ajudar que o encontro com Jesus Cristo se faça e refaça permanentemente (cf. n.41).

Tornar a iniciação cristã uma característica da ação evangelizadora e, consequentemente, das comunidades eclesiais, implica rever atitudes, horários, estruturas e, até mesmo, o perfil do agente evangelizador, que deverá servir como “ponte” entre o “candidato” à fé e a comunidade que o acolhe e acompanha.

Indicações pastorais: 

1. Em todas as paróquias e comunidades haja uma pastoral catequética vigorosa, com catequistas bem formados e em número suficiente; que haja suficientes espaços para a catequese; que nenhuma criança e adolescente de família católica fique sem a catequese para os Sacramentos de iniciação à vida cristã.

2. Pregação assídua e sistemática sobre os temas da fé e da moral, de maneira que a doutrina da fé católica e os mistérios da fé cristã sejam anunciados a todos, conhecidos e amados.

3. Atendimento personalizado das pessoas, através da acolhida, diálogo interpessoal, reflexão sobre a experiência de vida, no respeito à liberdade de cada pessoa.

4. Destaque para o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o discipulado, a comunhão e a missão. Sendo a comunidade eclesial o lugar da educação na fé, o processo formativo não pode se reduzir a cursos, pois exige a participação na vida da comunidade.

5. Atenção especial para a formação dos leigos, para favorecer o interesse e a participação de um maior número de pessoas na vida e missão da Igreja, servindo-se, para isso, dos recursos dos meios de comunicação, das possibilidades oferecidas pelas mídias sociais e pelas novas formas de educação.

6. Celebração intensa do ANO DA FÉ proclamado pelo Papa Bento XVI para o período de 11/10/2012 a 24/11/2013, a partir da Nota com indicações pastorais da Congregação para a Doutrina da Fé, de 5 de janeiro de 2012, e da Carta Pastoral do Arcebispo de São Paulo sobre o Ano da Fé. Estudo mais aprofundado do Catecismo da Igreja Católica (ou do seu Compêndio), do YouCat (Catecismo Jovem), pois o conhecimento doutrinal é essencial para a vida de fé: sem saber o que se crê, não dá para saber o que viver, o que testemunhar e o que celebrar.

7. Formação e acompanhamento na fé do cristão adulto, com o aprofundamento e comunicação constante da fé integral, seja no interior das paróquias e comunidades, como também nas próprias famílias e nas instituições católicas. Também intensificar a educação e a formação na fé das crianças, adolescentes e jovens (Escolas Católicas, Universidades etc), de modo que os católicos bem formados sejam capazes de “dar as razões de sua esperança”, conhecendo e amando a sua fé. Valorizar a participação na Liturgia, na Missa dominical e nos Sacramentos, a fonte e o ápice da vida cristã.

8. Estímulo e acompanhamento dos jovens em seu processo de educação na fé e na elaboração de um projeto de vida.

9. Formação bíblico-teológica: As Regiões Episcopais, Setores e as Faculdades de Teologia ofereçam cursos de formação bíblica e teológica para pessoas que estão à frente de trabalhos pastorais e movimentos, e para as pessoas que queiram aprofundar seus conhecimentos bíblicos e teológicos, para o serviço pastoral das comunidades.

10. Programa de Catequese Familiar, no qual os pais, orientados por catequistas devidamente preparados, ajudam no preparo dos seus filhos para a primeira Eucaristia e, assim, revivem sua fé, ao recordar ou viver a experiência do kerigma.

11. Formação de catequistas atentos à realidade, a partir da Doutrina Social da Igreja, para que contribuam para cultivar a fé encarnada, a relação fé e vida, favorecendo a vivência comunitária da fé, de modo que os católicos estejam preparados para testemunhar Jesus Cristo na cidade.

Terceira urgência: Igreja – comunidade animada pela Palavra de Deus 

“Na alvorada do terceiro milênio, não só existem muitos povos que ainda não conheceram a Boa-Nova, mas há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem experimentar concretamente a força do Evangelho […]; particularmente as novas gerações têm a necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a comunidade eclesial.” (Bento XVI, Verbum Domini, nn.96.97)

Hoje, compreende-se que não basta um contato casual e momentâneo com a Palavra de Deus. Ao contrário, este contato tem que ser profundo e vivencial, onde as pessoas sejam levadas a ver a própria vida à luz da Palavra e, assim, possam empenhar-se por colocá-la em prática efetivamente.

Trata-se de acolher a Palavra com a Igreja e na Igreja, superando uma leitura isolada. Por isso, é preciso favorecer a leitura da Palavra de Deus na comunhão com muitos irmãos e irmãs que se alimentam da Palavra e se esforçam por aprofundá-la nas famílias, nos pequenos grupos, nas comunidades eclesiais de base, nos encontros dos movimentos e organismos eclesiais, e nas novas expressões de vida consagrada.

Importância especial tem a Leitura Orante da Palavra de Deus, por meio da qual o leitor pode aproximar-se do Deus da Palavra, superando a dicotomia entre fé e vida, com o método da leitura, meditação, oração e contemplação da Palavra de Deus.

A animação bíblica da pastoral é o esforço de iluminar com a Palavra de Deus toda a vida através do conhecimento e da interpretação, da comunhão e da oração com a Palavra e da evangelização e proclamação da Palavra de Deus (cf. n. 53).

Indicações pastorais: 

1. Colocar a Bíblia nas mãos de todos, especialmente dos mais pobres; oferecer, em lugares cada vez mais numerosos, ocasiões para que as pessoas sejam ajudadas a ler corretamente a Escritura e a interpretá-la com a fé da Igreja.

2. Impulsionar a animação bíblica da pastoral, com agentes e equipes preparados, fazendo da Igreja “escola de interpretação da Palavra, escola de comunhão e oração com a Palavra e escola de evangelização e proclamação da Palavra” (DAp n.248; VD n. 73).

3. Despertar e fortalecer em todos os níveis da ação evangelizadora (paroquial, setorial, regional e arquidiocesano) a animação bíblica da pastoral, com o objetivo de aproximar cada pessoa da Palavra de Deus, para conhecê-la e interpretá-la corretamente, através de retiros, cursos, encontros, subsídios para a leitura individual, familiar e em pequenos grupos.

4. Apoiar e investir nos grupos de famílias, círculos bíblicos e pequenas comunidades, que se reúnem para a meditação e vivência da Palavra, em estreita relação com a realidade das pessoas e com o meio em que vivem.

5. Favorecer o conhecimento da Palavra de Deus nos ambientes secularizados e entre os não crentes, assim como nas escolas e universidades, sobretudo através da educação religiosa; promover manifestações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura e a utilização dos novos meios de comunicação social, especialmente a internet e as redes sociais.

6. Realizar nos encontros paroquiais das comunidades eclesiais, movimentos e organismos eclesiais, a Lectio Divina, com os seus quatro momentos – leitura, meditação, oração, contemplação –, que favorecem o encontro pessoal com Jesus Cristo, Verbo de Deus que se revelou ao mundo.

7. Investir na formação continuada dos ministros e ministras da Palavra de Deus, cuidando da sua adequada formação para exercício do múnus de leitor na celebração litúrgica, capacitando-os bíblica, litúrgica e tecnicamente.

8. Propiciar a sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas, leigos e leigas a oportunidade de formação litúrgica e musical mais aprimorada, de maneira que possam organizar e orientar a prática musical e transmitir às comunidades animação e beleza nas celebrações.

9. Valorizar muito a homilia, que atualiza a mensagem da Palavra de Deus, para que os fiéis sejam levados a descobrir a presença do Deus que lhes fala no momento atual de suas vidas.

10. Destacar, nas comunidades, a leitura e reflexão da Constituição Dogmática

“Dei Verbum”, do Concilio Vaticano II, tendo em vista a comemoração dos 50 anos do Concílio, e da Exortação Apostólica “Verbum Domini”, de Bento XVI (2010).

11. As paróquias e comunidades ofereçam aos fiéis oportunidades para retiros espirituais fundamentados na Palavra de Deus, criando e cultivando nos católicos uma mística e espiritualidade bíblica.

Quarta urgência: Igreja – comunidade de comunidades 

“A dimensão comunitária é intrínseca ao mistério e à realidade da Igreja, que deve refletir a Santíssima Trindade (DAp n.304). Sem vida em comunidade, não há como viver efetivamente a proposta cristã, isto é, o Reino de Deus. A comunidade acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta.” (DGAE 2011-2015, n. 56).

Ao destacar a importância da dimensão comunitária da vivência da fé, não se pode ignorar que hoje existem comunidades trans-territoriais, ambientais e afetivas. Entretanto, é na paróquia que a maioria das pessoas se relaciona com a Igreja. Por isso, as paróquias “precisam tornar-se sempre mais comunidades vivas e dinâmicas de discípulos missionários de Jesus” (n.57).

Com o Destaque Pastoral “Paróquia: comunidade de comunidades” assumido na Arquidiocese nos anos 2011-2012, cresceu a consciência sobre a importância da paróquia, “comunidade dos discípulos missionários”.

A Carta Pastoral do Cardeal Arcebispo Dom Odilo P. Scherer ajudou a tomar consciência de que “a paróquia é, na expressão local e concreta, aquilo que a Igreja é no seu todo. Na paróquia, a Igreja manifesta de maneira próxima e perceptível sua vida e sua missão; ela é uma comunidade organizada de batizados, de bens espirituais, simbólicos e materiais, de organizações e iniciativas, que fazem a Igreja acontecer num determinado espaço e contexto. A Igreja corre o risco de “rodar no vazio” e de ser reduzida a uma série de estruturas, instituições e organizações, sem chegar às pessoas concretas, se as paróquias não vivem bem sua identidade e missão e não são a expressão de comunidades vivas e dinâmicas, ou se carecem de objetivos e organização pastoral” (Carta Pastoral – Paróquia: torna-te o que tu és! p.5).

No seio das paróquias existem as comunidades eclesiais de base e outras comunidades menores, como as várias formas de agregações de fiéis, novas comunidades, movimentos eclesiais e pastorais; essas propiciam vínculos

profundos entre as pessoas e a interação entre fé e vida (cf. Carta Pastoral, n.60).

Indicações pastorais: 

1. Que as paróquias busquem e cultivem formas comunitárias de viver a fé e se transformem em comunidades de comunidades vivas e dinâmicas de discípulos missionários de Jesus Cristo.

2. Investir na setorização em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e de coordenação, que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na área. As paróquias e comunidades façam um levantamento da realidade local, no que diz respeito à educação, saúde, moradia e trabalho, ao número de templos religiosos de diferentes denominações cristãs e de outras tradições religiosas presentes no território paroquial; e da frequência à Missa, à catequese, aos Sacramentos, sobre as pessoas doentes, pessoas idosas e com deficiência.

3. As CEBs, inseridas nas suas respectivas paróquias, sejam estimuladas e ajudadas a manterem-se fiéis à sua razão de ser e sua missão de promover a interação entre fé e vida, o surgimento de vocações e de novos ministérios leigos, a educação da fé de jovens, crianças e adultos, o compromisso evangelizador e missionário junto aos mais afastados.

4. Apoiar e orientar as novas comunidades, movimentos, grupos de vida, de oração e de reflexão da Palavra de Deus; que a paróquia se torne, com a participação de todas as expressões comunitárias nela existentes, comunidade de comunidades.

5. Favorecer e estimular, de forma organizada e integrada, a experiência das paróquias-irmãs em toda a Arquidiocese, para promover a partilha e a comunhão dos recursos entre comunidades já estabelecidas e as mais novas, ou carentes de recursos.

6. No decorrer da celebração dos 50 anos do Concilio Vaticano II, ler e estudar a Constituição Dogmática Lumen Gentium, para redescobrir e conhecer melhor a realidade da Igreja e a participação de todos em sua vida e missão.

7. Paróquias e comunidades organizem o serviço de escuta e acolhida, com equipes de voluntários de diferentes profissões, para ajudar as pessoas que buscam ajuda e orientação social, médica, psicológica, religiosa, profissional, entre outras.

8. Estimular a vida fraterna e solidária entre os paroquianos, mediante a criação de grupos de voluntários formados por profissionais, para o atendimento aos necessitados, em especial nas paróquias da periferia.

9. Promover a implantação da Pastoral do Dízimo nas comunidades, visando a manutenção das mesmas e a formação da consciência da partilha e da responsabilidade de todos os fiéis na manutenção da vida e da missão da Igreja.

Quinta urgência: Igreja a serviço da vida plena para todos 

“Ao longo de uma história de solidariedade e compromisso com as incontáveis vítimas das inúmeras formas de destruição da vida, a Igreja se reconhece servidora do Deus da vida. A nova época que, pela graça deste mesmo Deus, haverá de surgir precisa ser marcada pelo amor e pela valorização da vida, em todas as suas dimensões. A omissão diante de tal desafio será cobrada por Deus e pela história futura” (DGAE 2011-2015 n. 66).

Um dos grandes testemunhos da Igreja, ao longo da sua história, é o seu compromisso com a vida. Também na nossa época, a fé se torna eloquente e compreensível aos olhos dos homens quando se traduz em serviço à vida.

A dimensão social está fundamentada na Palavra de Deus, nas reflexões dos Santos Padres e no Magistério da Igreja, especialmente na Doutrina Social da Igreja, para nortear a reflexão e ação do povo de Deus, como sinal de Cristo, bom Pastor, que acolhe de modo samaritano os irmãos e irmãs que vivem em situação de miséria, exclusão e sofrimento.

“A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma ajuda a outra a realizar o seu caminho. De fato, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor

Os católicos não podem calar-se diante da vida impedida de nascer, por decisão individual, ou pela legalização do aborto. Não podem calar igualmente diante da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer, liberdade, esperança e fé. Mas precisam comprometer-se com um mundo onde seja efetivamente reconhecido o direito a nascer, crescer, constituir família, seguir a vocação, crer e manifestar sua fé; com um mundo onde o perdão seja a regra, a reconciliação, meta de todos, a tolerância e o respeito, condição de felicidade e a gratuidade, vitória sobre a ambição. O discípulo missionário reconhece que seu sonho por vida eterna leva-o a ser, já nesta vida, parceiro da vida em plenitude.

Indicações pastorais: 

1. Ter um olhar atento para a família, de acordo com as orientações da Igreja.

Ela é patrimônio da humanidade, escola de comunhão, o primeiro lugar para a iniciação à vida cristã, onde os pais são os primeiros catequistas. Por ser considerada um “eixo transversal da ação pastoral”, a família precisa ser respaldada por uma pastoral familiar intensa, vigorosa e frutuosa. A família precisa ser também sujeito da ação política, para que o Estado assegure o exercício de direitos e deveres inerentes à vida familiar.

2. Dar especial atenção às crianças, adolescentes e jovens nas comunidades eclesiais. O trabalho pastoral realizado pela Pastoral da Criança, pela Pastoral do Menor, pela Infância Missionária, merece um grande apoio para evitar que crianças e adolescentes tornem-se vítimas precoces do abandono, da violência, das drogas e abusos, ou lhes sejam negadas oportunidades e perspectivas de futuro.

3. Despertar, valorizar e organizar os grupos juvenis para que se tornem comunidades de fé e de vida.

4. Acompanhar a ação dos trabalhadores e trabalhadoras, criando e apoiando alternativas de geração de renda, assim como a economia solidária, o acesso ao crédito popular, a busca do desenvolvimento local sustentável e solidário, e a formação para um emprego estável.

5. Apoiar o trabalho da CARITAS da Arquidiocese de São Paulo, nas campanhas emergenciais, nos projetos de economia solidária e geração de renda, na acolhida e encaminhamento dos migrantes, imigrantes e refugiados.

6. Incentivar a realização do Fórum das Pastorais Sociais nas Regiões Episcopais e na Arquidiocese, sob a direção da Coordenação Pastoral da Caridade Justiça e Paz, visando o entrosamento e a troca de experiências entre as diversas pastorais que atuam nas realidades sociais mais desafiadoras, e o estudo e a reflexão sobre a Doutrina Social da Igreja.

7. Acompanhar e estimular o trabalho realizado pela Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e o Centro Santo Dias na defesa dos direitos humanos, no combate a toda forma de injustiça e violência contra a pessoa humana.

8. Fortalecer a organização dos cristãos leigos e leigas por meio do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo e dos grupos de articulação dos leigos, que vão se constituindo no âmbito dos setores pastorais, para o amadurecimento da vida, missão e vocação laical.

9. Apoiar e incentivar a organização da Pastoral Afro e da Pastoral Indigenista em vista da inclusão social e da superação de toda discriminação e racismo, mediante a afirmação de seus direitos, cidadania, projetos próprios de desenvolvimento e consciência de suas próprias culturas.

10. Educar os fiéis para a preservação da natureza e o cuidado da ecologia e da biodiversidade, através de iniciativas e ações que promovam a educação para o respeito ao meio ambiente.

11. Estimular a participação social e política dos cristãos leigos e leigas nos diversos níveis e instituições, promovendo a sua formação permanente e iniciativas concretas, incentivando a sua participação nos Conselhos Paritários e Comunitários, bem como de Direitos Humanos.

12. Favorecer a colaboração e parceria das instituições católicas com outras instituições privadas ou públicas, com os movimentos populares e outras entidades da sociedade civil, nas causas justas e compatíveis com a fé e a moral cristãs, visando a implantação e execução de políticas públicas voltadas para a defesa e a promoção da vida e do bem comum, conforme a Doutrina Social da Igreja.

13. Formar grupos de Pastoral de Fé e Política nas Regiões Episcopais, setores e paróquias, motivando e preparando os fiéis para a difícil e nobre ação política em busca do bem comum (Gaudium et Spes 457), como testemunhas do Reino de Deus na Cidade.

14. Apoiar e valorizar a atuação do Vicariato da Pastoral da Comunicação na Arquidiocese.

15. Dar especial atenção à presença da Igreja nas periferias da cidade, e também à Pastoral Carcerária.

16. Investir na formação de pensadores e pessoas que estejam em níveis de decisão, para evangelizar os “novos areópagos”. Fortalecer a Pastoral Universitária e a Pastoral da Educação.

17. Acompanhar e apoiar a ação do Vicariato da Pastoral para o Povo da Rua, favorecendo a inclusão social, as expressões de religiosidade popular, o crescimento, aprofundamento e o testemunho da fé, que age pela caridade.

18. Educar para o valor da vida humana, a dignidade e os direitos humanos, o cultivo da saúde, a prática das virtudes humanas e a superação dos vícios.

19. Prevenir contra o consumo das drogas e do álcool, da prostituição, da violência e de toda forma de agressão à dignidade da pessoa e da vida humana. Educar para uma vida sexual sadia, regrada, respeitosa e responsável.

20. Realizar parcerias com a Defensoria Pública, visando a orientação e a assistência jurídica aos paroquianos necessitados ou, ao menos, encaminhá-los para os núcleos existentes, quando necessário. Divulgar a cartilha de direitos humanos à população.

21. Dar atenção especial aos idosos, animando a Pastoral da Pessoa Idosa, visando a sua integração na família e na sociedade, na busca constante da dignidade e da qualidade de vida física, psíquica e espiritual das pessoas idosas.

Sexta urgência – A Igreja e a evangelização dos jovens 

“A evangelização da juventude interessa muito à Igreja e aos seus pastores. Temos um compromisso sério com a formação das novas gerações que, pressionadas por tantas propostas de vida, necessitam de muito discernimento, de coragem, de verdadeiros caminhos e, principalmente, de nossa presença amiga. Os jovens têm o direito de receber da Igreja o Evangelho e de ser introduzidos na experiência religiosa, no encontro com Deus e no contato com as riquezas da fé cristã” (Doc. 85 CNBB, p.5)

 

A evangelização da juventude envolve a questão fundamental da transmissão da fé às novas gerações. “A fé há de ser apresentada aos jovens como um encontro amoroso com Deus, que toma feições humanas na pessoa de Jesus Cristo. Desse modo, estarão em jogo duas realidades: o encontro pessoal com Jesus Cristo e a aceitação de um projeto de vida baseado no seu Evangelho” (Doc. CNBB nº 85, n.3).

Os inúmeros desafios que os jovens enfrentam exigem urgentes iniciativas pastorais nas diversas instâncias da ação evangelizadora. “O combate à apologia e ao uso das drogas, a todo tipo de violência e extermínio de jovens, uma atraente proposta vocacional e a oferta de um itinerário para a organização de seu projeto pessoal de vida contribuirão com a vida plena desta parcela tão significativa de nossa Igreja e sociedade” (cf. DGAE 2011- 2015, 81).

A Arquidiocese de São Paulo, ao assumir esta urgência, quer renovar a opção afetiva e efetiva de toda a Igreja pela juventude, e convoca todas as forças eclesiais – presbíteros, diáconos, religiosos e leigos, paróquias, comunidades, pastorais, movimentos, associações e novas comunidades – a se empenharem na acolhida, formação e evangelização dos jovens, através de ações concretas, como mutirões, atividades esportivas e culturais, missões, retiros, encontros de formação e catequese.

Indicações pastorais: 

1. Repensar as atividades pastorais das paróquias e comunidades com especial atenção à juventude, fortalecendo e ampliando o que já existe e criando espaços e estratégias para atrair e convocar os jovens, fazendo-se presente entre os que estão fora da igreja (escolas, universidades, shoppings). Essas estratégias deverão ser pensadas como ações missionárias para a formação dos jovens.

2. Envolver as organizações eclesiais nas atividades da Semana Missionária (Pré Jornada) e da Jornada Mundial da Juventude de 2013. Em todos os países onde já aconteceram as JMJ, houve um aumento na participação dos jovens na vida da Igreja, inclusive com surgimento de novas vocações à vida consagrada. Nesse sentido, pensar na Pré-Jornada e na JMJ como uma oportunidade de diálogo, aproximação, acolhimento, envolvimento e animação da juventude na Igreja de São Paulo, usando também ações e iniciativas que se prolonguem para além da JMJ.

3. Organizar o Setor Juventude, buscando a unidade entre as forças eclesiais que trabalham com jovens na diversidade de carismas e pedagogias e proporcionar o fortalecimento de uma espiritualidade adequada aos jovens.

4. Nas paróquias e comunidades, identificar pessoas que tenham o carisma para o trabalho com jovens e capacitá-las para esse trabalho.

5. Identificar jovens em nossas comunidades que tenham conhecimento da informática para colocá-los a serviço da evangelização de outros jovens, através de sites, blogs, redes sociais, pelos quais os jovens possam se comunicar e evangelizar outros jovens.

6. Investir na criação de comunidades jovens que agrupem jovens com interesses afins (música, teatro, literatura, esportes etc). Que essas comunidades sejam permeadas pelos princípios cristãos da fé, justiça, fraternidade, caridade, gratuidade.

7. Envolver as famílias nas ações preventivas com os jovens, orientando-as a lidarem com seus filhos jovens, com indicações espirituais, pedagógicas e psicológicas, visando uma convivência harmoniosa, a detecção de situações de risco, como drogas, violência e também sedução por falsas propostas de felicidade.

Fonte: 11º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo


A mensagem do Papa Francisco para 2015

JÁ NÃO ESCRAVOS, MAS IRMÃOS

1. No início dum novo ano, que acolhemos como uma graça e um dom de Deus para a humanidade, desejo dirigir, a cada homem e mulher, bem como a todos os povos e nações do mundo, aos chefes de Estado e de Governo e aos responsáveis das várias religiões, os meus ardentes votos de paz, que acompanho com a minha oração a fim de que cessem as guerras, os conflitos e os inúmeros sofrimentos provocados quer pela mão do homem quer por velhas e novas epidemias e pelos efeitos devastadores das calamidades naturais. Rezo de modo particular para que, respondendo à nossa vocação comum de colaborar com Deus e com todas as pessoas de boa vontade para a promoção da concórdia e da paz no mundo, saibamos resistir à tentação de nos comportarmos de forma não digna da nossa humanidade.

Já, na minha mensagem para o 1º de Janeiro passado, fazia notar que «o anseio duma vida plena (…) contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar». Sendo o homem um ser relacional, destinado a realizar-se no contexto de relações interpessoais inspiradas pela justiça e a caridade, é fundamental para o seu desenvolvimento que sejam reconhecidas e respeitadas a sua dignidade, liberdade e autonomia. Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade. Tal fenómeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas sobre as quais desejo deter-me, brevemente, para que, à luz da Palavra de Deus, possamos considerar todos os homens, «já não escravos, mas irmãos».

À escuta do projeto de Deus para a humanidade 

2. O tema, que escolhi para esta mensagem, inspira-se na Carta de São Paulo a Filémon; nela, o Apóstolo pede ao seu colaborador para acolher Onésimo, que antes era escravo do próprio Filémon mas agora tornou-se cristão, merecendo por isso mesmo, segundo Paulo, ser considerado um irmão. Escreve o Apóstolo dos gentios: «Ele foi afastado por breve tempo, a fim de que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito mais do que um escravo, como irmão querido» (Flm 15-16). Tornando-se cristão, Onésimo passou a ser irmão de Filémon. Deste modo, a conversão a Cristo, o início duma vida de discipulado em Cristo constitui um novo nascimento (cf. 2 Cor 5, 17; 1 Ped 1, 3), que regenera a fraternidade como vínculo fundante da vida familiar e alicerce da vida social.

Lemos, no livro do Génesis (cf. 1, 27-28), que Deus criou o ser humano como homem e mulher e abençoou-os para que crescessem e se multiplicassem: a Adão e Eva, fê-los pais, que, no cumprimento da bênção de Deus para ser fecundos e multiplicar-se, geraram a primeira fraternidade: a de Caim e Abel. Saídos do mesmo ventre, Caim e Abel são irmãos e, por isso, têm a mesma origem, natureza e dignidade de seus pais, criados à imagem e semelhança de Deus.

Mas, apesar de os irmãos estarem ligados por nascimento e possuírem a mesma natureza e a mesma dignidade, a fraternidade exprime também a multiplicidade e a diferença que existe entre eles. Por conseguinte, como irmãos e irmãs, todas as pessoas estão, por natureza, relacionadas umas com as outras, cada qual com a própria especificidade e todas partilhando a mesma origem, natureza e dignidade. Em virtude disso, a fraternidade constitui a rede de relações fundamentais para a construção da família humana criada por Deus.

Infelizmente, entre a primeira criação narrada no livro do Génesis e o novo nascimento em Cristo – que torna, os crentes, irmãos e irmãs do «primogénito de muitos irmãos» (Rom 8, 29) –, existe a realidade negativa do pecado, que interrompe tantas vezes a nossa fraternidade de criaturas e deforma continuamente a beleza e nobreza de sermos irmãos e irmãs da mesma família humana. Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja, cometendo o primeiro fratricídio. «O assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gen 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros».

Também na história da família de Noé e seus filhos (cf. Gen 9, 18-27), é a falta de piedade de Cam para com seu pai, Noé, que impele este a amaldiçoar o filho irreverente e a abençoar os outros que o tinham honrado, dando assim lugar a uma desigualdade entre irmãos nascidos do mesmo ventre.

Na narração das origens da família humana, o pecado de afastamento de Deus, da figura do pai e do irmão torna-se uma expressão da recusa da comunhão e traduz-se na cultura da servidão (cf. Gen 9, 25-27), com as consequências daí resultantes que se prolongam de geração em geração: rejeição do outro, maus-tratos às pessoas, violação da dignidade e dos direitos fundamentais, institucionalização de desigualdades. Daqui se vê a necessidade duma conversão contínua à Aliança levada à perfeição pela oblação de Cristo na cruz, confiantes de que, «onde abundou o pecado, superabundou a graça (…) por Jesus Cristo» (Rom 5, 20.21). Ele, o Filho amado (cf. Mt 3, 17), veio para revelar o amor do Pai pela humanidade. Todo aquele que escuta o Evangelho e acolhe o seu apelo à conversão, torna-se, para Jesus, «irmão, irmã e mãe» (Mt 12, 50) e, consequentemente, filho adoptivo de seu Pai (cf. Ef 1, 5).

No entanto, os seres humanos não se tornam cristãos, filhos do Pai e irmãos em Cristo por imposição divina, isto é, sem o exercício da liberdade pessoal, sem se converterem livremente a Cristo. Ser filho de Deus requer que primeiro se abrace o imperativo da conversão: «Convertei-vos – dizia Pedro no dia de Pentecostes – e peça cada um o baptismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (Act 2, 38). Todos aqueles que responderam com a fé e a vida àquela pregação de Pedro, entraram na fraternidade da primeira comunidade cristã (cf. 1 Ped 2, 17; Act 1, 15.16; 6, 3; 15, 23): judeus e gregos, escravos e homens livres (cf. 1 Cor 12, 13; Gal 3, 28), cuja diversidade de origem e estado social não diminui a dignidade de cada um, nem exclui ninguém do povo de Deus. Por isso, a comunidade cristã é o lugar da comunhão vivida no amor entre os irmãos (cf. Rom 12, 10; 1 Tes 4, 9; Heb 13, 1; 1 Ped 1, 22; 2 Ped 1, 7).

Tudo isto prova como a Boa Nova de Jesus Cristo – por meio de Quem Deus «renova todas as coisas» (Ap 21, 5) – é capaz de redimir também as relações entre os homens, incluindo a relação entre um escravo e o seu senhor, pondo em evidência aquilo que ambos têm em comum: a filiação adoptiva e o vínculo de fraternidade em Cristo. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).

As múltiplas faces da escravatura, ontem e hoje 

3. Desde tempos imemoriais, as diferentes sociedades humanas conhecem o fenómeno da sujeição do homem pelo homem. Houve períodos na história da humanidade em que a instituição da escravatura era geralmente admitida e regulamentada pelo direito. Este estabelecia quem nascia livre e quem, pelo contrário, nascia escravo, bem como as condições em que a pessoa, nascida livre, podia perder a sua liberdade ou recuperá-la. Por outras palavras, o próprio direito admitia que algumas pessoas podiam ou deviam ser consideradas propriedade de outra pessoa, a qual podia dispor livremente delas; o escravo podia ser vendido e comprado, cedido e adquirido como se fosse uma mercadoria qualquer.

Hoje, na sequência duma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravatura – delito de lesa humanidade – foi formalmente abolida no mundo. O direito de cada pessoa não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi reconhecido, no direito internacional, como norma inderrogável.

Mas, apesar de a comunidade internacional ter adoptado numerosos acordos para pôr termo à escravatura em todas as suas formas e ter lançado diversas estratégias para combater este fenómeno, ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura.

Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores, a nível formal e informal, desde o trabalho doméstico ao trabalho agrícola, da indústria manufatureira à mineração, tanto nos países onde a legislação do trabalho não está conforme às normas e padrões mínimos internacionais, como – ainda que ilegalmente – naqueles cuja legislação protege o trabalhador.

Penso também nas condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajeto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente. Penso em tantos deles que, chegados ao destino depois duma viagem duríssima e dominada pelo medo e a insegurança, ficam detidos em condições às vezes desumanas. Penso em tantos deles que diversas circunstâncias sociais, políticas e económicas impelem a passar à clandestinidade, e naqueles que, para permanecer na legalidade, aceitam viver e trabalhar em condições indignas, especialmente quando as legislações nacionais criam ou permitem uma dependência estrutural do trabalhador migrante em relação ao dador de trabalho como, por exemplo, condicionando a legalidade da estadia ao contrato de trabalho… Sim! Penso no «trabalho escravo».

Penso nas pessoas obrigadas a prostituírem-se, entre as quais se contam muitos menores, e nas escravas e escravos sexuais; nas mulheres forçadas a casar-se, quer as que são vendidas para casamento quer as que são deixadas em sucessão a um familiar por morte do marido, sem que tenham o direito de dar ou não o próprio consentimento.

Não posso deixar de pensar a quantos, menores e adultos, são objeto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos, para ser recrutados como soldados, para servir de pedintes, para atividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas de adopção internacional.

Penso, enfim, em todos aqueles que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, servindo os seus objetivos como combatentes ou, especialmente no que diz respeito às meninas e mulheres, como escravas sexuais. Muitos deles desaparecem, alguns são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou mortos.

Algumas causas profundas da escravatura 

4. Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos. Com a força, o engano, a coação física ou psicológica, a pessoa humana – criada à imagem e semelhança de Deus – é privada da liberdade, mercantilizada, reduzida a propriedade de alguém; é tratada como meio, e não como fim.

Juntamente com esta causa ontológica – a rejeição da humanidade no outro –, há outras causas que concorrem para se explicar as formas atuais de escravatura. Entre elas, penso em primeiro lugar na pobreza, no subdesenvolvimento e na exclusão, especialmente quando os três se aliam com a falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada por escassas, se não mesmo inexistentes, oportunidades de emprego. Não raro, as vítimas de tráfico e servidão são pessoas que procuravam uma forma de sair da condição de pobreza extrema e, dando crédito a falsas promessas de trabalho, caíram nas mãos das redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos. Estas redes utilizam habilmente as tecnologias informáticas modernas para atrair jovens e adolescentes de todos os cantos do mundo.

Entre as causas da escravatura, deve ser incluída também a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo. Na realidade, a servidão e o tráfico das pessoas humanas requerem uma cumplicidade que muitas vezes passa através da corrupção dos intermediários, de alguns membros das forças da polícia, de outros atores do Estado ou de variadas instituições, civis e militares. «Isto acontece quando, no centro de um sistema económico, está o deus dinheiro, e não o homem, a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou económico, deve estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que fosse o dominador do universo. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro, dá-se esta inversão de valores».

Outras causas da escravidão são os conflitos armados, as violências, a criminalidade e o terrorismo. Há inúmeras pessoas raptadas para ser vendidas, recrutadas como combatentes ou exploradas sexualmente, enquanto outras se veem obrigadas a emigrar, deixando tudo o que possuem: terra, casa, propriedades e mesmo os familiares. Estas últimas, impelidas a procurar uma alternativa a tão terríveis condições, mesmo à custa da própria dignidade e sobrevivência, arriscam-se assim a entrar naquele círculo vicioso que as torna presa da miséria, da corrupção e das suas consequências perniciosas.

Um compromisso comum para vencer a escravatura 

5. Quando se observa o fenómeno do comércio de pessoas, do tráfico ilegal de migrantes e de outras faces conhecidas e desconhecidas da escravidão, fica-se frequentemente com a impressão de que o mesmo tem lugar no meio da indiferença geral.

Sem negar que isto seja, infelizmente, verdade em grande parte, apraz-me mencionar o enorme trabalho que muitas congregações religiosas, especialmente femininas, realizam silenciosamente, há tantos anos, a favor das vítimas. Tais institutos atuam em contextos difíceis, por vezes dominados pela violência, procurando quebrar as cadeias invisíveis que mantêm as vítimas presas aos seus traficantes e exploradores; cadeias, cujos elos são feitos não só de subtis mecanismos psicológicos que tornam as vítimas dependentes dos seus algozes, através de chantagem e ameaça a eles e aos seus entes queridos, mas também através de meios materiais, como a apreensão dos documentos de identidade e a violência física. A atividade das congregações religiosas está articulada a três níveis principais: o socorro às vítimas, a sua reabilitação sob o perfil psicológico e formativo e a sua reintegração na sociedade de destino ou de origem.

Este trabalho imenso, que requer coragem, paciência e perseverança, merece o aplauso da Igreja inteira e da sociedade. Naturalmente o aplauso, por si só, não basta para se pôr termo ao flagelo da exploração da pessoa humana. Faz falta também um tríplice empenho a nível institucional: prevenção, proteção das vítimas e ação judicial contra os responsáveis. Além disso, assim como as organizações criminosas usam redes globais para alcançar os seus objetivos, assim também a ação para vencer este fenómeno requer um esforço comum e igualmente global por parte dos diferentes atores que compõem a sociedade.

Os Estados deveriam vigiar por que as respectivas legislações nacionais sobre as migrações, o trabalho, as adopções, a transferência das empresas e a comercialização de produtos feitos por meio da exploração do trabalho sejam efetivamente respeitadoras da dignidade da pessoa. São necessárias leis justas, centradas na pessoa humana, que defendam os seus direitos fundamentais e, se violados, os recuperem reabilitando quem é vítima e assegurando a sua incolumidade, como são necessários também mecanismos eficazes de controle da correta aplicação de tais normas, que não deixem espaço à corrupção e à impunidade. É preciso ainda que seja reconhecido o papel da mulher na sociedade, intervindo também no plano cultural e da comunicação para se obter os resultados esperados.

As organizações intergovernamentais são chamadas, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, a implementar iniciativas coordenadas para combater as redes transnacionais do crime organizado que gerem o mercado de pessoas humanas e o tráfico ilegal dos migrantes. Torna-se necessária uma cooperação a vários níveis, que englobe as instituições nacionais e internacionais, bem como as organizações da sociedade civil e do mundo empresarial.

Com efeito, as empresas têm o dever não só de garantir aos seus empregados condições de trabalho dignas e salários adequados, mas também de vigiar por que não tenham lugar, nas cadeias de distribuição, formas de servidão ou tráfico de pessoas humanas. A par da responsabilidade social da empresa, aparece depois a responsabilidade social do consumidor. Na realidade, cada pessoa deveria ter consciência de que «comprar é sempre um ato moral, para além de económico».

As organizações da sociedade civil, por sua vez, têm o dever de sensibilizar e estimular as consciências sobre os passos necessários para combater e erradicar a cultura da servidão.

Nos últimos anos, a Santa Sé, acolhendo o grito de sofrimento das vítimas do tráfico e a voz das congregações religiosas que as acompanham rumo à libertação, multiplicou os apelos à comunidade internacional pedindo que os diversos atores unam os seus esforços e cooperem para acabar com este flagelo. Além disso, foram organizados alguns encontros com a finalidade de dar visibilidade ao fenómeno do tráfico de pessoas e facilitar a colaboração entre os diferentes atores, incluindo peritos do mundo académico e das organizações internacionais, forças da polícia dos diferentes países de origem, trânsito e destino dos migrantes, e representantes dos grupos eclesiais comprometidos em favor das vítimas. Espero que este empenho continue e se reforce nos próximos anos.

Globalizar a fraternidade, não a escravidão nem a indiferença 

6. Na sua atividade de «proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade», a Igreja não cessa de se empenhar em ações de carácter caritativo guiada pela verdade sobre o homem. Ela tem o dever de mostrar a todos o caminho da conversão, que induz a voltar os olhos para o próximo, a ver no outro – seja ele quem for – um irmão e uma irmã em humanidade, a reconhecer a sua dignidade intrínseca na verdade e na liberdade, como nos ensina a história de Josefina Bakhita, a Santa originária da região do Darfur, no Sudão. Raptada por traficantes de escravos e vendida a patrões desalmados desde a idade de nove anos, haveria de tornar-se, depois de dolorosas vicissitudes, «uma livre filha de Deus» mediante a fé vivida na consagração religiosa e no serviço aos outros, especialmente aos pequenos e fracos. Esta Santa, que viveu a cavalo entre os séculos XIX e XX, é também hoje testemunha exemplar de esperança para as numerosas vítimas da escravatura e pode apoiar os esforços de quantos se dedicam à luta contra esta «ferida no corpo da humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo».

Nesta perspectiva, desejo convidar cada um, segundo a respectiva missão e responsabilidades particulares, a realizar gestos de fraternidade a bem de quantos são mantidos em estado de servidão. Perguntemo-nos, enquanto comunidade e indivíduo, como nos sentimos interpelados quando, na vida quotidiana, nos encontramos ou lidamos com pessoas que poderiam ser vítimas do tráfico de seres humanos ou, quando temos de comprar, se escolhemos produtos que poderiam razoavelmente resultar da exploração de outras pessoas. Há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões económicas, fecham os olhos. Outros, pelo contrário, optam por fazer algo de positivo, comprometendo-se nas associações da sociedade civil ou praticando no dia-a-dia pequenos gestos como dirigir uma palavra, trocar um cumprimento, dizer «bom dia» ou oferecer um sorriso; estes gestos, que têm imenso valor e não nos custam nada, podem dar esperança, abrir estradas, mudar a vida a uma pessoa que tateia na invisibilidade e mudar também a nossa vida face a esta realidade.

Temos de reconhecer que estamos perante um fenómeno mundial que excede as competências de uma única comunidade ou nação. Para vencê-lo, é preciso uma mobilização de dimensões comparáveis às do próprio fenómeno. Por esta razão, lanço um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo, o Qual Se torna visível através dos rostos inumeráveis daqueles a quem Ele mesmo chama os «meus irmãos mais pequeninos» (Mt 25, 40.45).

Sabemos que Deus perguntará a cada um de nós: Que fizeste do teu irmão? (cf. Gen 4, 9-10). A globalização da indiferença, que hoje pesa sobre a vida de tantas irmãs e de tantos irmãos, requer de todos nós que nos façamos artífices duma globalização da solidariedade e da fraternidade que possa devolver-lhes a esperança e levá-los a retomar, com coragem, o caminho através dos problemas do nosso tempo e as novas perspectivas que este traz consigo e que Deus coloca nas nossas mãos.

Fonte: Rádio Vaticano


Página 6 de 6« Primeira...23456