O título desta entrevista é o mesmo da de janeiro deste ano, afinal são pessoas da mesma família, viveram nos mesmos lugares e, até hoje, estão praticamente no mesmo endereço:
“Nasci, fevereiro de 1928, em Ribeirão da Onça, em Maristela, interior de São Paulo, também era conhecido como Montevidéo. Meus pais sempre ficaram por lá. Minha irmã (Dona Nena) e eu, depois que casamos, sempre seguimos nossa sogra: moramos algum tempo em Laranjal Paulista, numa antiga fazenda de escravos, conhecida como “Fazenda dos Turcos”, depois fomos para Maringá, no Paraná, retornamos para a fazenda dos Turcos, depois para Piracicaba e finalmente São Paulo capital, conta Maria José Alves Lima, mais conhecida como Dona Zezé.
No auge de seus 85 anos, continua bem animada e, juntamente com suas filhas Dita, Fia e Regina, tivemos um bom papo: “Tive nove filhos sobreviventes. Outros morreram. Como tinha de cuidar dos filhos, demorei muito a ajudar nos trabalhos da igreja, na verdade, fui levada pela Fia, que já participava há algum tempo”, relembra D. Zezé. “Eu nasci no interior, era muito pequena quando cheguei em São Paulo. Na época, devido as roupas que usavam, chamávamos os padres de ‘padres das roupas pretas’.
Eles passavam por aqui, normalmente de bicicleta, e nos levava para uma capelinha próximo da Vila Rica. Mas quem me levou e incentivou mesmo a ir no santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração foi a tia Tuga (dona Nena). Participei do “grupo das virgens”, “das cruzadas” e das ‘Filhas de Maria’,” acrescenta Edna Aparecida Alves de Lima, conhecida como Fia.
Quando chegaram no bairro, era tudo ainda muito precário: “quando chegamos não tinha boa distribuição de eletricidade por aqui. Então usávamos emprestado de uma vizinha, da dona Maria Godino. A água era de bomba”, lembra Maria Benedita Alves de Campos, conhecida como Dita. “Como não tinha asfalto, havia muita poeira.
Por sermos negras, nossas pernas eram muito ‘russas’. Então passávamos vaselina para mudar a cor. Quando chegávamos no Santuário, misturava a vaselina com a poeira vermelha e imagina a cor que ficava o pano que levávamos para limpar”, complementa Fia, sorrindo e acrescenta “nós tínhamos de levar sempre o terço, o véu e o livrinho”. Ainda por volta da década de 1970 começaram a ajudar na quermesse: “primeiro foi bolo e chocolate. Depois sopa, canja e canjica. Fazíamos até 39kg de canjica. Eram feitos em caldeirões que levávamos, sobre a cabeça, para a quermesse lá no Santuário”, conta dona Zezé, e acrescenta “até hoje sou membro da Legião de Maria e do Apostolado da Oração”. “Eu sou membro da Legião e ajudo cantando em diversas celebrações, especialmente aqui na São José”, complementa Fia. “E eu ajudo num monte de coisas aqui na comunidade são José” acrescenta Dita. “E eu ajudo no Grupo dos Acólitos, dos Coroinhas,na liturgia e sou catequista, além de ajudar em outros trabalhos”, conclui Maria Regina Alves Lima.
Graças alcançadas? São muitas, mas destacam-se: “a primeira que nos despertou a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração foi um acidente de caminhão. Não havia ônibus e o transporte coletivo era feito por caminhão. Aconteceu perto da praça Sampaio Vidal todos gritamos o nome de Nossa Senhora do Sagrado Coração e não sofremos nada” contam Dita e Fia. “Eu tinha os pés sempre frios e não havia meio de eles aquecerem.
Um dia implorei a ela e nunca mais tive este problema”, acrescenta Dita.
“A Sara teve tuberculose e naquela época era muito complicado. E logo depois eu tive uma pneumonia muito forte. Até sangue pelo nariz eu soltava. Tive de ser internada. Imploramos a Nossa Senhora do Sagrado Coração e fomos curadas”, conclui dona Zezé.
Miguel Mota
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