Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Dona Nair Mirandola Missionária há mais de cinco décadas

Assim como em nossa edição anterior, coincidentemente, é da diocese de Lins, interior de São Paulo a nossa entrevistada deste mês: “Nasci em Getulina, a quase 500 quilômetros da capital paulista, em 1941. Desde pequena participo da igreja: quando criança, da Cruzadinha e como adolescente, das Filhas de Maria”, conta-nos dona Nair Mirandola.

Apesar do incentivo dos pais, não estudou muito: “estudei até a admissão, o que seria, talvez, o 5º ano atualmente. Não estudei mais devido à distância, pois tinha de ficar na casa de um tio. Pouco depois mudei para Lins e comecei a trabalhar. Na loja, conheci Manoel Martins Neto, irmão de minha patroa, com o qual me casei tempos depois”, relembra ela.

Manoel era natural de Taquaritinga, também interior de São Paulo. “Casamos em agosto de 1958, em Lins. Pouco depois, em dezembro, mudamo-nos para São Paulo e fomos morar na Vila Olinda (Vila Formosa). Depois mudamos para a rua Montemagno e estou aqui até hoje”, rememora pausadamente como que contando os anos…

A viagem foi longa e cansativa: “viemos de trem. Com uns bancos duros, que só. Depois pegamos um taxi até aqui. No dia seguinte, o primeiro lugar que visitamos foi a igreja de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Sempre fomos muito religiosos. Até então conhecíamos esta devoção apenas de nome. A partir de então freqüentarmos sempre o santuário, especialmente participando das missas das 6h da manhã, aos domingos”, conta ela com olhar longínquo e saudoso…

Logo que chegaram, trataram de reiniciar a vida. “Meu marido comprou um salãozinho, próximo da esquina da rua Angá com a Eduardo Cotching. Lá fizemos uma quitanda. Ele saía de madrugada para comprar as frutas, verduras e legumes no mercadão. Pouco depois colocamos doces à venda, também. Normalmente vendíamos mais que as padarias, pois ali era caminho dos alunos que saíam do Externato Nossa Senhora do Sagrado Coração”. Relembra com saudades e conclui dizendo que o marido falecera em 1990.

Logo que os vicentinos instituíram as sacolas de natal, participaram ativamente: “Meu marido normalmente enchia 5 ou mais sacolas e levava para a igreja. Porém, quando comecei a participar da liturgia, ele, no início, repetia ‘não vai que você vai fazer feio’.” Relembra sorrindo.

Um fato que a marcou foi um acidente sofrido pelo filho mais velho. “Aconteceu na Via Dutra. Ele estava parado no acostamento e uma carreta bateu no veículo. Ele caiu numa ribanceira. Quando nos avisaram, ele já estava no hospital. Ao chegarmos, o médico nos comunicou a perna dele seria amputada, pois estava em péssimo estado. Naquele momento chorei muito. Porém, vi, na sala do médico, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Como sou muito devota de Nossa Senhora, rezei mais ainda. Cerca de 10 dias depois, o médico disse que por falta de recursos, não poderia fazer a amputação. Porém, perceberam que era possível colocar algumas placas. Considero isto um milagre, pois ele ainda viveu mais 20 anos conosco, normalmente. Infelizmente, quando faleceu foi vítima do câncer”, rememora e revive entre lágrimas, saudades e agradecimentos…

Após o falecimento do marido, intensificou ainda mais sua participação na igreja. “Há muitos anos participo da equipe de liturgia das 7h30, dos domingos; dos grupos de rua; da Legião de Maria, que já fui até presidente; dos vicentinos, na conferência são Francisco Xavier; e do Apostolado da Oração, do qual sou coordenadora atualmente”, enumera entusiasmada.

Finaliza com saudades de alguns momentos: “as procissões eram lindas. Íamos até a Água Rasa, devagar e em fila dupla. Havia as Filhas de Maria, os anjos, muitos cartazes”… A filha, Adriana, acrescenta: “tenho muita saudade da quermesse quando acontecia em frente à igreja…”. E dona Nair acrescenta: “há mais de 30 anos que coordeno a barraca de doces. E sempre arrecadamos quase tudo para a barraca”. Relembram, enfim, que sempre tiveram visitas dos padres: Agenor, Sebastião, Almir, Jorge e Valdeci, para citar alguns.

Miguel Mota