19/04/2017 – E a noite vem chegando… (Lc 24,13-35)
O Evangelho de hoje nos coloca diante de uma das páginas mais tocantes do Novo Testamento: os discípulos de Emaús. Cléofas e o anônimo são dois desanimados, derrotados pelas circunstâncias, esmagados pela notícia da inaceitável morte de seu Mestre. O dramático desfecho do Calvário sufocava toda esperança. Por isso mesmo, desfeitos os sonhos, voltavam para a vida velha. Só não contavam com a companhia do estranho Caminheiro…
Lev Gillet comenta: “Os discípulos de Emaús estavam perturbados e tristes enquanto se achavam reduzidos aos seus próprios arrazoados. Quando, porém, o Senhor os substitui e põe-se a explicar as Escrituras, tudo se torna claro para eles, tudo se pacifica. Aqueles que arrazoavam e discutiam deixam de fazê-lo. Todas as perplexidades se desvanecem perante as calmas certezas dadas pelo Mestre.
É assim também conosco… Em certos momentos, todos nós somos peregrinos de Emaús, caminhando na noite que cai, com nossas ansiedades, nossas dúvidas, nossas angústias, nossos raciocínios, nossas discussões internas e mútuas.
E Alguém vem por trás de nós, junta-se a nós, entra na mistura confusa de nossos sentimentos e de nossas ideias. E uma grande claridade penetra em nós. Faz-se uma grande paz. Talvez não reconheçamos a Presença suprema e cheia de vida, mas, tal como os discípulos de Emaús, pressionando Jesus para que ele não vá adiante, toda a nossa alma grita para esse desconhecido Poder: “Oh! Não nos deixe ainda! Não vá embora! Permaneça conosco!”
Então, nosso verdadeiro problema não era a angústia, mas a solidão. Nosso remédio não era bem a vitória, mas a Presença. Tampouco era o rumo que nos daria sentido, mas a Companhia.
E como permanecer angustiado naquela mesa onde o Ressuscitado parte o Pão? Como temer a derrota em sua Presença? Como prosseguir na rota de fuga quando o Companheiro se assenta conosco? Agora os seus olhos se abriram. Reconhecem a viva Presença de Cristo em seus gestos rituais. Uma luz inesperada invade o seu íntimo, afastando as sombras da noite e as trevas da morte.
Como termina o relato deste Evangelho? Aqueles dois discípulos fujões – os missionários demissionários – prontamente se levantaram da mesa e, mesmo em plena noite, retomaram o caminho de Jerusalém, onde se uniram aos Onze e testemunharam diante da assembleia reunida. A certeza da Ressurreição vinha devolver ao cenário do Gólgota a sua verdadeira dimensão.
Seria assim a nossa vida? Desânimo, derrota, angústia? Será que ainda não nos demos conta da Presença de Jesus em nossa mesa?
Orai sem cessar: “O Senhor santificou os seus convidados…” (Sf 1,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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