14/04/2017 – Guarda tua espada! (Jo 18,1 – 19,42)
Cresce cada vez mais no planeta o conceito de que é preciso abolir as religiões para que a sociedade possa, enfim, viver em paz. Os novos fiéis dessa crença antirreligiosa examinam a História e pretendem que os conflitos humanos brotam das diferenças na fé. Os recentes casos de terrorismo islâmico sustentariam seu argumento.
Se possível, pediria ajuda aos arqueólogos, e eles nos mostrariam as lanças e os tacapes dos trogloditas em um estrato de tempo ainda não visitado pelos pajés e sacerdotes. Falando mais claro: muito antes de erguerem o primeiro altar, os homens já se esfolavam mutuamente pelo controle de um território ou de um rebanho de carneiros. A violência está na posse, no domínio e no poder, não nos louvores ao Criador.
Hoje, Sexta-feira da Paixão, a liturgia orienta nossos olhos para o drama do Calvário. Ali, o Filho que nos foi enviado pelo Pai é preso, arrastado de tribunal em tribunal e, enfim, assassinado cruamente com a chancela do governador romano e o aplauso do Sumo Sacerdote judeu. Justo e inocente, Jesus é sacrificado para que se mantenham intactas as vantagens e conveniências do dirigentes da Palestina.
No momento de sua prisão, Simão Pedro saca da espada e fere um dos esbirros que prendiam o Mestre. De pronto, Jesus reage e ordena: “Guarda a tua espada na bainha!” (Jo 18,11) No Evangelho de Mateus, Jesus acrescenta: “Todos os que usam da espada, morrerão pela espada”. (Mt 26,52) Bastam estas duas frases para ficar bem claro que a “religião” de Jesus não tem nenhuma afinidade com a violência e a força das armas. Se alguém invocasse seu Evangelho como pretexto para invadir, atacar e ferir, estaria fraudando a mensagem de Cristo.
Ainda no Evangelho de hoje (cf. Jo 18,36), Jesus dialoga com Pôncio Pilatos, que o interroga. E diz com todas as letras: “O meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus”. Como foi possível que a mensagem de Jesus fosse deturpada a tal ponto, que acabasse invocada como justificativa para conquistar lugares sagrados, impor uma religião de Estado ou perseguir dissidentes? Como é possível que ainda hoje tentem ideologizar o Evangelho para transformá-lo em arma de revolução social?
A leitura da Paixão de Cristo deve dar-nos força para encarar a realidade: o cristão é chamado a ser vítima, não carrasco. O lado do cristão é o lado dos vencidos, não dos dominadores. Quem se aproxima de Jesus à espera de um trono de poder ou, pelo menos, de uma subsecretaria, não entendeu nada do Evangelho. A “vitória” que Cristo nos oferece não virá antes do Calvário.
Seguir Jesus é abraçar a cruz…
Orai sem cessar: “Como cordeiro ao matadouro, ele ficou calado…” (Is 53,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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