3/04/2017 – Ninguém te condenou? (Jo 8,1-11)
Apanhada em flagrante adultério, uma jovem noiva [se já fosse mulher casada, seria condenada à forca, conforme o Sifrei 361 dos rabinos judaicos] é arrastada aos pés de Jesus por um grupo de escribas e fariseus que pretendem puni-la com a lapidação, conforme estava previsto na lei mosaica. Uma frágil pomba cercada de falcões sanguinários. Apontam para ela o dedo indicador da mão direita em um gesto de acusação… Ela deve pagar o pecado com a morte!
Na verdade, afirma João, tratava-se de um pretexto para deixar Jesus em má situação. Era como se dissessem: – “Vamos ver como sai dessa o tal rabi da Galileia, que tanto fala em misericórdia… Se ele concorda com o apedrejamento, desmente tudo que já ensinou. Se ele se posiciona a favor da adúltera, podemos acusá-lo de rejeitar a Lei”. Assim, depois de citar os preceitos que mandavam apedrejar a infratora (cf. Lv 20, 10; Dt 22, 23), espremem Jesus contra a parede: – “E tu, que dizes?”
Mas eles mentiam, de certa forma, pois a Lei mandava aplicar a dura pena não somente contra a mulher, mas também contra o parceiro de adultério. E Jesus se cala, se inclina e começa a escrever com o mesmo dedo da mão direita na areia fina do pátio do Templo. Ali, era exatamente a Terra de Moriá, onde Isaac tinha sido poupado da morte (Gn 22). Não era lugar de condenação…
E o contraste é ainda mais agudo quando se leva em conta que a Lei invocada pelos acusadores havia sido gravada na pedra do Sinai, de modo indelével, e transmitida a Moisés nos ásperos tempos da Velha Aliança. Desta vez, já em clima da Nova e Eterna Aliança, é sobre a areia fina que Jesus escreve. Areia que um leve sopro de vento desmancha, a-pagando os crimes e os castigos. Areias de misericórdia…
Como os acusadores insistem em obter uma resposta, Jesus, ainda inclinado, manda que a primeira pedra seja atirada por algum dos acusadores que esteja sem pecado. Depois de rápido exame de consciência, a começar pelos mais velhos – exatamente os que tiveram mais tempo para pecar -, eles se vão retirando um a um, deixando a sós Jesus e a pecadora. O Mestre estende agora – só agora – o dedo indicador para ela e pergunta: “Ninguém te condenou?” Ela murmura: “Ninguém…”
“Nem eu te condeno” – diz Jesus. “Vai e não tornes a pecar!” Aquele mesmo Juiz que detesta radicalmente o pecado sempre terá infinitas reservas de amor pelos pecadores, pois Deus é amor…
Em tempo de vinganças e clamores populares, chegaremos a compreender a misericórdia divina?
Orai sem cessar: “Meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões!” (Dn 6, 23)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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