13/04/2017 – Tirou o manto… (Jo 13,1-15)
Um dos símbolos da antiga realeza, juntamente com a coroa e o cetro real, era o manto de honra. Na última ceia em que convive com seus apóstolos, em clima de intimidade e de tensão emocional, Jesus se despe do manto e troca-o por uma tolha. É uma cena de despojamento. E tem o seu sentido.
O manto é uma veste pesada, longa, imprópria para prestar um serviço manual. Além do lado prático, o manto – bem como as comendas e condecorações, os colares de mérito e os paramentos religiosos – acaba por situar seu portador alguns degraus acima da gente comum. E o Mestre precisa ensinar uma última lição: descer…
Aliás, toda a vida de Jesus foi uma permanente descida. Desce do Pai para a mulher, em sua encarnação. O divino desce ao nível dos humanos. Homem, desce ao nível dos servos, lavando os pés dos discípulos. Rebaixa-se ainda mais: aceita morrer na cruz, suplício reservado aos escravos e proibido aos cidadãos. Morto, desce ao túmulo. Depois de sepultado, desce ao Xeol, a mansão dos mortos, para levar a eles a Boa Nova (cf. 1Pd 3,19; 4,6). Acabou a descida? Ainda não: em cada missa, sob a aparência material de uma pasta de água e farinha de trigo, Jesus continua a descer sobre nossos altares.
Ainda queremos subir? Receber aplausos? Merecer honrarias? Subir no pódio? Que fez Jesus Cristo ao lavar os pés de seus discípulos? A resposta nos é dada por Mons. Claude Rault, Bispo do Saara argelino:
“Ele assumiu a condição do Servidor… Ele estabeleceu o sinal que o compromete no caminho do dom de sua vida por todos. E agora pede a seus discípulos que façam o mesmo. Não apenas fazer gestos de gentileza, prestar serviços eventuais, mas serem ‘servidores’ uns dos outros. Ele pede a seus discípulos que tenham uns pelos outros um amor suficientemente forte para ir até o fim, até o dom de sua vida, se assim for preciso.”
Recentemente, cm palavras um tanto incômodas, o Papa Francisco veio apontar na mesma direção: “O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro ‘considerando-o como um só consigo mesmo’. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo procurar efetivamente o seu bem. […] Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação”. (EG, 199)
Vamos despir o manto?
Orai sem cessar: “Servi ao Senhor com alegria!” (Sl 100,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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