7/04/2017 – Trouxeram pedras… (Jo 10,31-42)
Um dia, na solidão do deserto, Jesus teve fome e foi tentado pelo demônio, que lhe sugeriu transformar pedras em pães (Mt 4,3). Era uma proposta direta para que assumisse o seu destino em suas próprias mãos, como se o Pai não cuidasse pessoalmente das necessidades do Filho. Outra vez, na montanha, ensinando a multidão, Jesus perguntou se, entre eles, um pai seria tão mau que chegasse a dar pedras ao filho que pedisse pão (Mt 7,9).
É áspero este contraste entre a pedra e o pão. A pedra é dura, fria, inorgânica. O pão é macio, quente, orgânico. Ela nasce da erupção violenta dos vulcões. Ele é carinhosamente amassado pela mãe de família. A pedra serve até para matar. O pão, ao contrário, garante a vida do homem.
Neste Evangelho, Jesus ensina no Templo, junto ao pórtico de Salomão. E quando o Filho de Deus chama a Deus de Pai, afirmando sua unidade com Ele, os judeus foram buscar pedras para o apedrejar, como punição contra um blasfemador. Logo Jesus, que lhes dava o Pão da Palavra, ser ferido com pedras até a morte?!
Terrível capacidade humana de pagar o bem com o mal! Profunda cegueira que rejeita o dom oferecido por Deus! Esta reação se repetiria: tentaram matar Jesus na sinagoga de Nazaré, ao anunciar o “ano da graça” do Senhor (Lc 4,14ss). Ou quando perdoou os pecados ao paralítico (Mt 9,1-8). E ainda quando chamou Lázaro de volta à vida (Jo 11,53). A crucifixão no Calvário foi apenas a última cena de um drama que os homens daquele tempo prepararam com ódio e rancor.
Ao longo da História humana, geração após geração, os discípulos de Jesus sempre enfrentaram o mesmo ódio e a mesma violência. A semelhança entre o Mestre e seus seguidores fiéis é tão extrema, que Estêvão, o primeiro dos mártires cristãos, foi morto com pedras (cf. At 7,58). E os apóstolos Pedro e André acabariam crucificados como Jesus. Na verdade, o martírio vem exatamente atestar que o discípulo foi fiel a seu Mestre. Aliás, “mártir” significa precisamente “testemunha”.
A Igreja ainda padece perseguição. Se o homem é explorado e ferido, a Igreja o defende e sofre violência. Ela foi torturada no Coliseu romano, nos jardins do Imperador e nas minas de metal. Todos os totalitarismos odiaram Roma, como o nazismo de Hitler e o comunismo de Stálin. Ainda hoje, os cristãos são martirizados entre comunistas, com os bispos chineses presos e torturados, ou entre muçulmanos, cujos ativistas degolaram os monges de Tbhirine, no Monte Atlas (Argélia).
Que temos nós para Jesus e sua Igreja? Também jogaremos pedras?
Orai sem cessar: “A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se a pedra angular.” (Sl 118,22)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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